Distrito de Vila Cristina foi o palco da terceira visita técnica
Desvendamos um pouco da história, da presença indígena aos dias atuais, muita cultura para conferir. A diversidade étnica, especialmente de alemães e pomeranos, revela memórias que o Pé-da-Serra faz surgir.
Na terceira visita técnica do projeto"Caxias do Sul: história e cultura nos distritos”, os participantes visitaram lugares e percorreram caminhos de Vila Cristina. Novamente, encerraram a programação agradecendo a oportunidade de ter acesso a novos conhecimentos e vivências incríveis. O projeto que vem possibilitando esses passeios pelo interior é financiado pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC) de Caxias do Sul, com apoio cultural de Metadados, L. Fomolo, Hotel Blue Tree Towers, Fercien Inovação e Gestão de Ativos, Angeza e Sorvetes Urca.

Memorial Caminho Pomerano
Da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias), o ponto de partida, a turma pegou a BR-116 e seguiu diretamente para o Caminho Pomerano, um lugar que fica do outro lado do Rio Caí, ou seja, geograficamente, está nos limites de Nova Petrópolis, mas tem grande importância para a história de Caxias do Sul. Quem recebeu os participantes por lá foi Lair Carlos Goldbeck, um senhor que conhece muito da trajetória daquela região e tem muitas histórias divertidas para contar. A visita começou pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, na Comunidade Evangélica São José do Caí. Lair contou com a obra e destacou uma curiosidade: o engenheiro sugeriu que ela fosse virada para o outro lado, imaginando que seria construída uma estrada lá, mas os moradores foram contra. Ele tinha razão e o templo acabou ficando de costas para o caminho.
Atravessando essa estrada, os participantes então foram ver o Memorial Caminho Pomerano, que conta um pouco da história da chegada desse povo no território que hoje pertence a Caxias do Sul, nos anos 1800. Uma lista que contém os nomes das famílias que vieram para cá é um dos destaques entre as imagens que mostram a ocupação das regiões de Vila Cristina e Sebastopol, que atualmente fazem parte do nosso município. Esse espaço é aberto ao público e pode ser visitado livremente. Lendo as informações e conferindo as fotos, é possível aprender sobre a imigração alemã.
Escola 19 de Abril, considerada a primeira de Caxias do Sul, surgiu após a chegada dos imigrantes pomeranos e alemães na década de 1860. Funcionou até 2024 e, hoje, aguarda transformação em creche. A direita foto da Rampa Sul, tradicional ponto de decolagem de parapente e asa delta no distrito de Vila Cristina, em Caxias do Sul. Com vista panorâmica do Vale do Rio Caí, é um local emblemático para os praticantes de voo livre.
Como havia uma chuva fina na manhã da visita e há uma obra no caminho, não foi feita a vista ao ponto onde os rios Caí e Piaí se encontram. Porém, os participantes receberam informações a respeito deles e terão outra oportunidade para conhecer, quando for feita a visita a Santa Lúcia do Piaí. Do Memorial, então, eles partiram para a Linha Sebastopol. No caminho, passaram em frente de uma casa feita em meados de 1880 e que sediou muitos Kerbs. Falamos mais sobre ela neste post. Uma das primeiras escolas de Caxias do Sul também estava no roteiro e foi apontada aos participantes. Nós temos um conteúdo especial sobre a educação neste distrito. Confira acessando este link. Na Linha Sebastopol, houve uma nova parada para ouvir as histórias do Seu Lair, incluindo relatos sobre a construção das casas enxaimel. Também foi falado sobre a Rampa Sul, que é cenário de voos livres que, em determinadas épocas do ano, levam cor ao céu da região. Neste momento, o sol já estava saindo, e o dia seguiria lindo.
Depois do almoço, a visita técnica seguiu com um momento especial. Na subprefeitura de Vila Cristina, a idealizadora do projeto e do Guia de Caxias do Sul, Marivania Sartoretto, entregou um mapa do distrito para a equipe que trabalha lá. Na forte enchente de maio de 2024, o mapa que existia lá ficou destruído, já que a água chegou quase ao teto do primeiro piso do prédio. A subprefeitura foi um dos lugares mais danificados pela chuva, e a entrega representa o apoio do Guia de Caxias do Sul no recomeço necessário, além de expressar a importância e apoiar na restauração do Espaço Cultural História & Memória de Vila Cristina, que igualmente foi danificado pelas chuvas. Os trâmites para a sua reconstrução estão em andamento. A acolhida aos participantes foi com música e cucas, um dos principais produtos da gastronomia de Vila Cristina.

Visita à Subprefeitura de Vila Cristina, marcada pela entrega simbólica do mapa do distrito.
Feita essa pausa, o comboio seguiu para a Estrada Rio Branco, essa via que teve uma importância enorme para o desenvolvimento de Vila Cristina, especialmente na região de Nova Palmira. O Guia de Caxias do Sul produziu um conteúdo especial sobre essa localidade. Você pode acessar neste link. A primeira parada por lá na propriedade dos Noll. O grupo foi recebido pela Márcia Noll, que nasceu naquelas terrase contou a história do moinho e da farmácia que pertenceram aos seus antepassados. O moinho foi construído entre os anos 1860 e 1880, quando começou a sua operação. Ele funcionou até 1950. Hoje, restam partes da construção.
As ruínas do Moinho Noll e da antiga Farmácia Noll, localizadas na Estrada Rio Branco, em Vila Cristina.
Já a farmácia tem móveis, livros e outros objetos preservados dentro da construção onde sempre funcionou. Os participantes da visita tiveram a oportunidade de entrar e de ouvir de Márcia como eram feitos os atendimentos na época. Casos pouco graves eram resolvidos ali mesmo, por Alcides Noll, que fundou a farmácia em 1903. Quando se tratava de situações mais graves, ele encaminhava o paciente para o Centro de Caxias do Sul, onde havia mais estrutura. Ali na propriedade, também está preservada uma casa que serviu como comércio. Porém, ela não pertence a Márcia e, portanto, não foi possível entrar. Fotos antigas ainda completaram a recepção na propriedade dos Noll.
Mapa ilustrativo da Estrada Rio Branco, em Vila Cristina, mostrando a localização dos antigos empreendimentos. Alguns já não existem, outros permanecem em ruínas, mas a memória segue viva entre os moradores. Um registro que nos permite compreender quanta história e riqueza passaram por essa região, guardando lembranças marcantes do nosso passado.
De volta à Estrada Rio Branco, foi feita uma parada no ponto estratégico de Nova Palmira na época em que os imigrantes europeus estavam chegando por aqui. Por lá, foi possível ver de fora os prédios do banco e da delegacia. Nesta parada, os participantes ouviram mais histórias. Dali, seguiram para um lugar emblemático: uma casa que serviu como barracão e ainda está em pé. Os barracões eram lugares onde os imigrantes italianos ficavam ao desembarcar no Porto do Guimarães Eles aguardavam ali até serem conduzidos aos seus lotes. Nesta propriedade, a turma ouviu as histórias de Antônio Carlos Jacoby, que mantém viva a história dos seus antepassados.
Antigo barracão que acolhia os novos imigrantes que chegavam à região a partir de 1875. Único ainda em pé no território de Caxias do Sul, resiste ao tempo e guarda entre suas paredes tantas histórias e memórias do passado.
A parada seguinte teve como objetivo mostrar que não se trata apenas de passado, mas também de presente. E o Orquidário do Vale foi o lugar escolhido para demonstrar que, atualmente, muitos empreendedores seguem atuando no distrito de Vila Cristina e contribuindo para o desenvolvimento de Caxias do Sul. Além de representar tudo isso, ele ainda agrada aos olhos com as lindas orquídeas que estão disponíveis para venda.
Vista da Estrada Rio Branco, em 2025, na região de Nova Palmira, atualmente coberta por um tapete de hortaliças que abastece a população de diversas regiões. A segunda foto registra o Orquidário do Vale, localizado em Vila Cristina, um dos maiores do Sul do país, símbolo do empreendedorismo e da renovação presentes no distrito.
Mais duas paradas ainda aguardavam os participantes desta visita técnica. Primeiro, o grupo visitou uma propriedade que foi da família de Jorge Potter. Acompanhando o grupo, ele contou que, na década de 1970, a residência do pai dele serviu como escola. Ele tinha dois anos na época e lembra que, posteriormente, sua família doou um terreno ao município para que fosse construída a escola que, atualmente, é chamada de Assis Brasil. Ao olhar para a casa onde teve aulas e relembrar toda essa história, Jorge se emocionou. Atualmente, a propriedade, deonominada como Sítio do Moinho, pertence a um casal de fora do Rio Grande do Sul que escolheu aquele lugar para seguir a vida e hoje recebe peregrinos que fazem o Caminho de Caravaggio. Nessa propriedade, também estão mantidas ruínas de um moinho e uma serraria que funcionaram no passado.

Na foto, as ruínas do antigo Moinho e da Serraria Potter. Ao centro, a casa que abrigou a primeira Escola Assis Brasil, hoje localizada em novo endereço, registrada na terceira imagem. Atualmente, a propriedade é conhecida como Sítio do Moinho.
Para encerrar a visita técnica, o grupo foi na Famiglia Pezzi, localizada às margens da Estrada do Imigrante. Os participantes ouviram depoimentos do casal, composto por uma mulher descendente de alemães e um homem descendente de italianos. Eles sempre viveram na beira da Estrada do Imigrante e compartilharam as suas histórias. Nesta última parada, a turma foi recebida com cuca e café, ao melhor estilo gastronômico alemão / italiano. Com mais histórias e a típica confraternização ao redor de uma mesa, o grupo se despediu com a orientação de subir de volta pela Estrada do Vinho.
Um casal típico de Vila Cristina — ela, descendente de alemães; ele, de italianos — nos acolheu à mesa, compartilhando histórias das duas etnias que permanecem vivas na região. Entre relatos e memórias, todos puderam saborear uma cuca alemã, vivendo um dia que reflete a tradição e a cultura local. O encontro aconteceu na propriedade da Família Pezzi, Café Colonial, situada às margens da Estrada Rio Branco, também conhecida como Estrada do Imigrante.
Em outubro, o destino será Fazenda Souza. Até lá!
Curadoria, apresentação e organização: Marivania L. Sartoretto
Texto: Paula Valduga
Fotos: Paula Valguga, Marivania L. Sartoretto, Márcia Santuário e Jorge Potter.
Local: Caxias do Sul, Distrito de Vila Cristina
Setembro de 2025.








