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Ensino e primeira escola

Ensino e primeira escola

As peculiaridades da educação em Vila Cristina, um lugar que reuniu povos de diferentes origens
Ensino e primeira escola

O desafio da língua em Vila Cristina e a primeira escola de Caxias do Sul 

 

A língua foi um dos grandes desafios vividos por quem morava em Vila Cristina na época da imigração. Com alemães e italianos convivendo juntos, já existia naturalmente uma dificuldade de comunicação. Para torná-la ainda maior, quem já estava aqui antes falava português. E, além de tudo isso, entre os alemães que se estabeleceram em Nova Palmira, havia os que falavam o dialeto hunsrück, ou seja, eram quatro línguas sendo faladas em uma pequena localidade. Esse dialeto era tão forte que, até hoje, há descendentes que sabem falar. Um exemplo das barreiras de comunicação aconteceu em uma ocasião em que uma família colheu uma excelente safra de pepino e foi preciso usar gestos para que outras pessoas entendessem o que as pessoas estavam querendo transmitir.

Naturalmente, esse desafio esteve presente também no ensino, já que as escolas tinham alunos que conheciam diferentes línguas. Os alemães luteranos que viviam nas regiões de Sebastopol e Barros Pimentel tinham o estudo como algo muito importante. Para poderem receber o sacramento religioso, as crianças precisavam antes saber ler e escrever, por isso, o estudo foi um assunto tratado como prioridade desde o início da presença deles por aqui. Os primeiros alemães chegaram em Nova Palmira em 1859; os italianos, em 1876; e o lugar ainda contava com portugueses. Esses últimos deixavam a educação a cargo do Estado e mandavam os filhos para a escola pública que existia por lá. Os italianos erguiam capelas antes de se preocupar com a educação. E os alemães tinham como primeira providência a instalação da escola.

No início da vida deles aqui, quem dava aula era quem sabia mais entre os moradores da localidade. De 1859 até 1881, os próprios moradores foram os responsáveis pelo ensino. Já em 1882, foi fundada a escola teuto-brasileira em Nova Palmira, cuja coordenação era dos padres jesuítas. Um pouco antes disso, porém, conforme Lair Carlos Goldbeck, foi contratado um agrimensor para lecionar na escola da comunidade. Ele deu aulas em 1872, uma época em que pastores também atuavam na escola (entre 1860 e 1870), que começou sua trajetória como pública e depois tornou-se evangélica. De 1882 a 1934, passaram pela escola professores como Rauber, Schmaedecke,Roswadoski, Schmitz, Friedrichs, Borgmann, Backes e Jacoby.

Antonio Jacoby foi convidado pela comunidade para lecionar ali porque atuava no seminário e falava português, italiano e alemão. O seu neto, Antonio Carlos Jacoby, é o atual proprietário da edificação onde tudo começou. O prédio, que também serviu como barracão para acolher os novos imigrantes, mais tarde foi comprado pelo seu avô aos 17 anos de idade, por 21 mil réis, a moeda da época. Muito dedicado à educação, ele era pago pelos pais dos alunos e teve uma atuação marcante na comunidade. Ele casou-se com uma italiana chamada Hermínia Thomas. No livro "Estrada Rio Branco: o caminho da emancipação”, há um depoimento de Antonio Carlos que reproduziremos agora: "[...] Vou contar uma historieta que meu avô sempre repetia: na escola tinha alunos evangélicos e católicos. Vinham acavalo para a escola. Meu avô era católico. Certo dia, o padreda comunidade queria dividir os alunos em salas para católicose salas para evangélicos. Meu avô então disse pra ele:"O senhor manda lá na igreja que aqui na escola, mando eu!” […]”.

Até 1920, os filhos de imigrantes italianos tiveram que frequentar a escola e aprender a língua alemã. Somente depois dessa data é que o professor Jacoby introduziu o italiano. De manhã, a aula era em alemão; e à tarde, em italiano. Em 1934, Nova Palmira passou a ser o nono distrito de São Sebastião do Caí, e a escola passou a ser nomeada como Escola de n° 40, do município de São Sebastião do Caí. O primeiro professor nomeado foi Theotonio Mariante e, nessa instituição pública, as crianças aprendiam a Língua Portuguesa.

Fora do território de Nova Palmira, na área de Vila Cristina que pertencia a Caxias do Sul, os alemães seguiam com a sua preocupação com a educação e foram eles os responsáveis pela fundação de uma das primeiras escolas de Caxias do Sul. O registro do colégio, chamado 21 de Abril, é de 1939. Por ali, a escola seguia particular e as aulas aconteciam nas línguas dos imigrantes até 1941, quando aconteceu a nacionalização, no governo Getúlio Vargas, e então foi preciso lecionar em português.

Chegando à história mais recente, vale destacar que, com a construção da BR-116, a região foi se desenvolvendo e a demanda por educação aumentou. Conforme Jorge Potter, na década de 1970, a residência do pai dele serviu como escola. Ele tinha seis anos na época e lembra que, posteriormente, sua família doou um terreno ao município para que fosse construída a escola que, atualmente, é chamada de Assis Brasil. Ela fica localizada na Estrada do Vinho e teve novas salas inauguradas em 2024. Nessa data, Vila Cristina estava com apenas essa instituição operando. A Escola Municipal 21 de Abril, em Sebastopol, havia encerrado as atividades em 2023 e estava aguardando a transformação em uma creche. No mesmo ano, devido à grande enchente que atingiu o Rio Grande do Sul, foram encerradas as atividades também na Escola Estadual Dr. Renato Del Mese, que já estava com a sua estrutura precária.

Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania L. Sartoretto

Texto: Paula Valduga

Fotos: Marivania L. Sartoretto

Ano: 2025

Para citar

SARTORETTO, Marivania L.; VALDUGA, Paula. Projeto Patrimônio, Marcos e Lendas / Lei Paulo Gustavo. Caxias do Sul:2025. Disponível em: https://www.guiadecaxiasdosul.com/turismo/patrimonios/patrimonios-e-lendas/ensino-e-primeira-escola

Referências

BETTEGA, Maria Lucia. História de Nova Palmira: tempo, memória e registros. Caxias do Sul: Editora São Miguel, 2006. 128 p.

Brambatti, Luiz E. Estrada Rio Branco:o caminho da emancipação.Caxias do Sul, RS: Quatrilho Editorial, 2015.

Depoimento de Lair Carlos Goldbeck

Depoimento de Jorge Potter