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Moinho Noll

Moinho Noll fez diferença no desenvolvimento de Nova Palmira

 

O Moinho Noll foi um empreendimento que fez diferença no desenvolvimento de Nova Palmira, às margens da Estrada Rio Branco. Segundo o livro Vila Cristina: História e Memória, de Germano Noll e Liliana Alberti Henrichs e publicado em 2016, a história começa em 1876, quando José Ledur, próspero comerciante e negociante de terras em Bom Princípio (naquela época pertencente a Montenegro), decide construir um moinho. Como a região era montanhosa, não era possível fazer moinhos de vento. Era preciso apostar na energia hidráulica, portanto, Ledur precisava de um terreno próximo a um riacho com força para girar uma roda d’água.

“O terreno adquirido foi uma nesga de terra cortada pelo Arroio Pinhal, compreendida entre o lote 17 da Linha Christina, pertencente a Herman Sorgetz desde julho de 1859, e o arroio do Coronel Bello, antigo limite da Fazenda Palmyra, ocupado por uma família de colonos desde antes de 1850. Havia necessidade de construir um canal para desviar a água do arroio Pinhal, o mesmo que nasce na atual zona urbana de Caxias, passa por Galópolis e deságua no Rio Caí, cujo percurso passaria por outras terras de Sorgetz; por terras de Heinrich Mews (Lote 16) e terras de Carl Reisner (lote 15). Um acordo verbal selou a permissão, sem ônus, pois o futuro moinho beneficiaria a todos.” (NOLL, Germano e HENRICHS, Liliana Alberti. Vila Cristina: História e Memória. 2016)

A construção contou com a experiência de Jacob Renner, que construía moinhos desde os 14 anos de idade, e seu pai, Philip Renner, capaz de consertar qualquer engenhoca. As obras começaram em 1877 e deveriam estar concluídas no ano seguinte. No livro Vila Cristina: História e Memória, os autores descrevem como elas aconteceram: “A obra era faraônica: o canal tinha dois metros de largura, 1,5 metro de profundidade e 400 metros de comprimento, tudo escavado com picareta e pás. Os 400 metros do canal e parte do muro da represa ainda podem ser vistos. O prédio do moinho foi construído em quatro andares. Dois em pedra e dois em madeira. Estima-se que participaram simultaneamente mais de 100 obreiros. O horário de trabalho era como na agricultura, de sol a sol de segundas-feiras aos sábados. As pedras de arenito eram transportadas por quatro quilômetros, tendo que transpor o arroio do Coronel Bello.”

Todo o material necessário era importado da Alemanha por meio de empresas especializadas de Porto Alegre. Caixeiros viajantes se deslocavam sobre cavalos ou mulas oferecendo produtos e anotando as encomendas. Na Capital, entregavam os pedidos. Os equipamentos chegavam em vapores via Rio Caí e, do porto, seguiam em mulas até Nova Palmira. O processo de encomenda até a entrega demorava em torno de um mês.

A obra não ficou pronta no prazo previsto e, em 1880, José Ledur estava endividado e não conseguia cumprir os compromissos. Ele, então, decidiu que os credores poderiam vender o moinho. O comprador foi Pedro Noll, um imigrante alemão. A proposta dele foi aceita em 12 de fevereiro de 1881. O primeiro passo foi escolher um mestre moleiro, que acabou sendo o seu genro, Carl Fetter. Ele casou-se com a primogênita de Pedro Noll, Adolfine Katharina, e o casal foi morar próximo do moinho. No livro Vila Cristina: História e Memória, há o detalhamento de como a moagem funcionava. Confira a transcrição:

“Os colonos levavam os grãos ao moinho onde eram de imediato pesados. O trigo passava por um processo de limpeza, depois ia para o descascamento e por último era moído. O processo do milho era mais simples, ia diretamente para a moagem em mós, que são duas pedras redondas, uma sobre a outra, a inferior fixa e a superior rotativa.”

Pedro Noll frequentava o moinho de forma recorrente. E, no ano de 1887, levou o seu filho, Germano Noll, então com 15 anos, para trabalhar lá. O negócio seguia próspero até 1899, quando Pedro Noll morreu com uma doença no estômago, possivelmente câncer. A viúva, Suzanna Elisabeth Zirbes Noll, tomou a frente dos negócios por cerca de dois anos. Germano Noll seguia lá, assim como Carl Fetter como mestre moleiro, e o moinho continuava funcionando bem. A prosperidade seguiu até 1903, quando a decadência começou. Um dos motivos foi a diáspora alemã. As pequenas propriedades onde os imigrantes viviam não eram suficientes para acolher famílias com tanto filhos. Portanto, liderada pela Igreja Católica, começou uma migração para a região das Missões, Argentina, Alto Uruguai e Planalto Médio, entre outras. Posteriormente, se estendeu ao Oeste Catarinense. O mesmo movimento, anos mais tarde, foi feito pelos imigrantes italianos.

Esse foi o primeiro impacto. O segundo foi a chegada da energia elétrica às cidades. Moinhos mais modernos e produtivos foram sendo construídos e não dependiam da água, como acontecia em Nova Palmira. Em épocas de seca, o Moinho Noll precisava parar e, depois, trabalhar 24 horas por dia. A energia elétrica chegou a Nova Palmira apenas em 1958, quando o moinho já não funcionava mais.

Noll e Liliana também citam outros motivos para o início da morte do moinho. Entre eles, em 1930, a construção de um porto em Rio Grande para receber trigo da Argentina a preços mais baixos; no mesmo ano, o incentivo do governo Getúlio Vargas para moinhos urbanos e a restrição de uso dos coloniais. Houve também o impacto da Segunda Guerra Mundial. Nos seus últimos 10 anos de existência, o moinho de Nova Palmira não pode renovar seu maquinário e seus equipamentos. O êxodo rural ocorrido ao final da guerra também diminuiu a importância do moinho.

As comportas foram fechadas definitivamente em 1950, quando o proprietário do moinho, Germano Noll, faleceu, com quase 79 anos de idade. Noll e Liliana concluem no livro: “O moinho, com 70 anos de idade, deu seu último suspiro e também morreu.”