Apresentação Estrada Rio Branco
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Estrada Rio Branco foi um dos motores do desenvolvimento da região.
Todas as publicações sobre a história de Nova Palmira são unânimes: um dos motivos da prosperidade desse lugarejo encravado entre São Sebastião do Caí e Caxias do Sul foi a existência da Estrada Rio Branco.
Para chegar à construção da estrada, porém, precisamos voltar um pouco no tempo e relatar como surgiu Nova Palmira, um lugar que hoje pertence ao distrito caxiense de Vila Cristina. Nos anos 1800, começou a ser feita a divisão político-administrativa do Rio Grande do Sul. Conforme a obra Vila Cristina História & Memória, foram criadas quatro freguesias, que eram equivalentes ao que é hoje um município: Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha.
Em 1850, quatro fazendas à beira do Rio Caí foram colonizadas. Entre elas, estava a Fazenda Palmyra, com aproximadamente 6.500 hectares. É ali que está hoje o distrito de Vila Cristina. Conforme informações do livro, a colonização foi delegada para o governo da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul com instruções de continuar o loteamento de todas as terras devolutas entre os vales do Sinos e do Caí. A Lei de Terras, de 18 de setembro de 1850, determinava que eram consideradas terras ocupadas apenas as registradas. As demais eram devolutas.
Em 1864, ainda conforme os autores do livro, uma área de 8 mil quilômetros de terras devolutas no Rio Grande do Sul foi dividida em três colônias: Conde D’Eu, Dona Isabel e Colônia dos Fundos de Nova Palmira, denominada Colônia Caxias a partir de 1877. Situadas entre os vales do Rio das Antas e do Rio Caí, tinham como limites os Campos de Cima da Serra, na época ocupados por portugueses, e o Vale dos Rio dos Sinos, onde já estavam imigrantes alemães.
Um dos principais motores do desenvolvimento de Nova Palmira, a Estrada Rio Branco foi traçada em 1874 e a sua construção aconteceu de 1877 a 1890. Ela foi feita com o objetivo de possibilitar o acesso à Colônia Caxias e demais povoados da região e unir essas localidades a grandes centros como Porto Alegre e São Paulo. Inicialmente, partia de São Sebastião do Caí e terminava em Caxias. Com o tempo, foi ampliada, chegando a Ana Rech, Criúva e Vacaria. É importante destacar que antes da colonização, essa área havia sido ocupada por índios e por tropeiros. Esses últimos usaram a Estrada Rio Branco para levar gado até os grandes centros, portanto ela tem a sua importância desde antes do início da chegada dos imigrantes.
Fazendo um recorte para a época da imigração, há uma estimativa de que passaram por essa importante via 10 mil imigrantes nos primeiros 10 anos de colonização. “Todas as carroças disponíveis em São Sebastião do Caí, Feliz e localidades vizinhas foram locadas pelo estado para fazer o transporte dos pertences dos imigrantes a partir de São Sebastião do Caí. Os imigrantes seguiam caminhando”, informam os autores.
Em São Sebastião do Caí, ficava o Porto do Guimarães, uma estrutura fundamental para que o governo imperial conseguisse colonizar os fundos de Nova Palmira. As rotas eram as seguintes: por via fluvial, de Porto Alegre, navegando pelo Rio Caí, até o Porto do Guimarães; por estrada, do porto até o Passo da Boa Esperança, na Picada Feliz, e do passo da Boa Esperança até a Linha Cristina. Por ter conexão tanto com o porto quanto com a Estrada Rio Branco, Nova Palmira se tornou um lugar desenvolvido, que possuía grande parte dos serviços necessários, como moinho, casa de comércio, delegacia, escola e banco, entre outros.
Às margens da Estrada Rio Branco, também havia barracões. Esses lugares eram construídos para abrigar as famílias de imigrantes até que a terra que eles ocupariam fosse oficialmente entregue. Normalmente, o pai de família se deslocava até Caxias do Sul ou outras cidades da região para receber o lote e acertar toda a burocracia. A família esperava em um barracão em Nova Palmira. Quando tudo estivesse pronto, ele retornava para buscar seus familiares. Uma casa que serviu como barracão - e teve outros usos também - ainda está em pé e, possivelmente, seja a única. Por lá, também existiam as Casas de Kerbs, lugares em que os alemães costumavam confraternizar, ou seja, havia realmente tudo que era necessário, tornando Nova Palmira um lugar praticamente autossuficiente. E isso se deve muito ao fato de os modais de transporte da época estarem ligados à localidade.
A movimentação de imigrantes e de tropeiros pela Estrada Rio Branco fez a diferença no desenvolvimento de Nova Palmira e contribuiu para que o status dela fosse sendo alterado ao longo do tempo. Em 12 de abril de 1884, com a maioria das propriedades já ocupadas, Caxias foi extinta como colônia e anexada ao município de São Sebastião do Caí. No território, estava Nova Palmira, que, crescendo a partir de negócios importantes, em 1934 foi elevada a distrito de São Sebastião de Caí e, em 31 de março de 1938, à condição de Vila. Em 17 de fevereiro de 1959, a localidade desanexou-se de São Sebastião de Caí e incorporou-se a Caxias do Sul, cidade a que pertence até hoje.
Olhando para essas datas e ouvindo Maria Lúcia Bettega, autora do livro Nova Palmira - Tempo, Memórias e Registros, conclui-se que Nova Palmira foi o berço da imigração. “Nova Palmira foi um lugar muito desenvolvido pra época e o berço da colonização. Algumas histórias colocam Nova Milano como berço, mas em Nova Palmira, a colonização é mais antiga”, afirma. Portanto, passa pela Estrada Rio Branco e, consequentemente, pelo distrito de Vila Cristina, o início da história próspera que os imigrantes europeus construíram por aqui.
Não é apenas olhando para o desenvolvimento de Nova Palmira que percebe-se a importância da Estrada Rio Branco, mas também focando nos tempos não tão áureos. Os modais de transporte foram responsáveis pelo auge e pela decadência. No ano de 1910, foi inaugurada a ferrovia entre Montenegro e Caxias do Sul, e então o transporte fluvial perdeu força. Posteriormente, a ligação rodoviária entre Porto Alegre e a Serra, pela Estrada Júlio de Castilhos e, depois, via BR-116, foram mais dois avanços que diminuíram tanto a atividade fluvial quanto o movimento na Estrada Rio Branco. A BR-116 acabou passando por fora de Nova Palmira e o lugar foi perdendo a sua força.
Hoje, é um lugarejo calmo, com casas centenárias encravadas em uma paisagem linda e rodeadas de plantações que parecem desenhadas em um quadro. Quem vive por lá não abre mão da paz e da tranquilidade. E ainda tem ao redor um legado rico e com parte preservada. Alguns lugares importantes estão retratados de forma individual nesse conteúdo especial do Guia de Caxias do Sul. Leia, olhe as fotos e, é claro, programe-se para percorrer a Estrada Rio Branco. Boa parte da história da colonização está em pé e aguarda por você.
Descrição da Estrada Rio Branco - Vila Cristina
Cordenação: Marivania Lucia Sartoretto
Textos: Paula Valduga
Patrocinío: Pettenati
Fontes: moradores locais e bibliografia a seguir.
BETTEGA, Maria Lúcia. História de Nova Palmira: tempo, memória e registros. Caxias do Sul: Editora São Miguel, 2006.
BRAMBATTI, Luiz E. Estrada Rio Branco: O Caminho da Emancipação. Caxias do Sul: Quatrilho Editorial, 2015.
NOLL, Germano e HENRICHS, Liliana Alberti. Vila Cristina: história e memória. Caxias do Sul: 2016.
Histórias de Caxias do Sul / organização de Liliana Alberti Henrichs; Dinarte Paz et al. _Caxias do Sul, RS: Secretaria de Cultura / Departamento de Memória e Patrimônio Cultural, 2012
WITT, Elenita Schmitt. Retalhos de nossas origens. Caxias do Sul: 2016