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-> HISTÓRIA DE GALÓPOLIS

GALÓPOLIS: HISTÓRIA, MEMÓRIA, IDENTIDADE E PATRIMÔNIO CULTURAL 

A Região Administrativa de Galópolis localiza-se na porção sul de Caxias do Sul, há 11 km do centro da cidade, sendo dividida entre zonas urbanas e zonas rurais. Sua área urbana – o bairro Galópolis – situa-se às margens da BR 116, sendo a porta de entrada para o seu interior, composto pela 3ª e 4ª Légua, uma parcela da 5ª e da 6ª Légua, bem como o loteamento Altos de Galópolis.


Vista de Galópolis a partir do Morro da Cruz, em 1988. Acervo do Instituto Hércules Galló.

A região é um vale encaixado, cortado pelo Arroio Pinhal que desemboca na Cascata Véu de Noiva e, por isso, um de seus primeiros nomes foi “Il Vale del Profondo” – em tradução literal, “o vale profundo”. A riqueza natural foi um dos fatores determinantes às distintas ocupações do espaço ao longo do tempo (FONTANA; HERÉDIA, 2018 ).


Os primeiros habitantes deste território foram os indígenas Kaingang. Embora existam poucas pesquisas sobre estes povos originários na localidade, o mapeamento de sítios arqueológicos feitos em 1966 pelo arqueólogo Fernando La Sálvia (IPHAN, 1997 ) e os relatos orais de moradores indicam a presença de casas subterrâneas e resquícios cerâmicos de tradição Taquara.
O contato desta cultura indígena com as dos colonizadores europeus ocorreu ao longo dos séculos XVIII e XIX, principalmente durante a demarcação territorial promovida pelo Império brasileiro com o objetivo de identificar terras devolutas do Estado. Com este mapeamento, a região se tornou caminho para tropeiros que utilizavam o vale para encurtar seu trajeto até à capital e otimizar a comercialização do charque.


A partir da segunda metade do século XIX, quando o país precisava de mão de obra barata em substituição ao trabalho escravizado e buscava reforçar suas fronteiras com a ocupação territorial branca, a imigração europeia surgiu como uma alternativa promissora. Diante destas circunstâncias, Galópolis passou a ser colonizada majoritariamente por imigrantes italianos – embora pesquisas também indiquem a presença de alemães e poloneses.
Os imigrantes fizeram-se presentes nesta área ainda antes da instituição da política migratória brasileira, mas foi após 1875 que seu povoamento se tornou expressivo. Sendo subsidiadas pelo Estado, famílias recém-saídas da Itália devido às precárias condições de vida pós-unificação, recebiam lotes de terras ao longo das 3ª, 4ª, 5ª e 6ª Léguas  – por isso, a atual nomenclatura das zonas rurais da Região Administrativa é oriunda dos nomes dados durante o loteamento das terras devolutas. 
O objetivo desta ocupação foi tornar estes lotes economicamente ativos, tendo a policultura como principal forma de desenvolvimento agrário familiar – sistema ainda muito presente no interior. Mas a área que interligava todas estas léguas acabou se tornando o berço da indústria têxtil da região nordeste do Rio Grande do Sul, quando 28 ex-operários expulsos do Lanifício Rossi (Comuna de Schio - Itália) emigraram e fundaram a cooperativa Società Tevere e Novitá, em 1894 (HERÉDIA, 2017)  – iniciando sua produção têxtil quatro anos depois.
   

                                                                     
Primeira edificação do Lanifício construída próxima ao Arroio Pinhal pelos cooperativados (à esquerda), representados por José Comerlato, José Berno, José Casa, José Bolfe e João Batista Mincato (à direita), na segunda metade da década de 1890. Acervo do Instituto Hércules Galló.

A empresa foi adquirida pelo também imigrante italiano Hércules Galló em 1904, que otimizou seu modo de produção ao fundar o Lanifício São Pedro S.A. ao lado dos sócios Chaves Barcellos, anos mais tarde. Neste período, o sistema paternalista de gestão empregado na fábrica orientou a criação de uma vila operária que passou a se chamar “Galópolis” em 1915 (BUENO, 2012 ), em homenagem ao patriarca – assim, Galópolis significa “cidade de Galló”. 
    

Registros do parque fabril e da vila operária de Galópolis feitos pelo fotógrafo Sisto Muner respectivamente em 1948 e 1934. Acervo do Instituto Hércules Galló.

Até 1979, a maior parcela da população da vila, era composta por trabalhadores do Lanifício e suas famílias. Devido à distância em relação ao centro de Caxias do Sul e à necessidade de manutenção da mão-de-obra operária, os habitantes eram assistidos por meio de entidades criadas pela fábrica com o apoio da Igreja Católica .

       
 Dentre os serviços assistenciais disponibilizados pela fábrica estavam os promovidos pelo Círculo Operário Ismael Chaves Barcellos, que oferecia serviços ambulatoriais, farmácia, cooperativa de consumo, creche e cursos de corte e costura. Acervo de Rosa Maria Diligenti.


 Grêmio Esportivo Ismael Chaves Barcellos, uma das equipes esportivas mantida pelo Círculo Operário, em 1943. Acervo de Agostino Fontana.


Piquenique organizado pelo Círculo Operário em homenagem ao dia dos Reis Magos em 1942. Acervo de Sisto Muner.


Nos anos 80 e 90, com a venda do parque fabril e a instalação do Lanifício Sehbe S.A., o assistencialismo paternalista entrou em decadência paulatinamente. Todavia, o setor têxtil continuou orientando a vida na região, mesmo após a falência desta empresa, que foi adquirida por ex-funcionários e voltou a produzir no ano de 2001 como Cooperativa de Trabalho Têxtil Galópolis - COOTEGAL (ERLO, 2019 ), retornando às suas origens. 

Muito dessa história você pode conferir hoje visitando o Instituto Hercules Galó, que tem objetivo de preservar a trajetória textil do local  e também o Museu de Território, primeiro do Rio Grande do Sul um projeto pioneiro que através de informações descritas em toten você conhecer um pouco da historia de 15 locais, a céu aberto.
 

Hoje
Berço do processo de industrialização em suas zonas urbanas e forte polo da agricultura familiar em suas zonas rurais, esta região administrativa encanta pela sua História, pela sua paisagem e pela diversidade de seus mais de 7 mil habitantes, que resguardam um forte vínculo de pertencimento ao lugar – principal diferencial que torna Galópolis um complexo patrimonial que preserva sua materialidade com base em suas referências imateriais.

Vista áerea de Galópolis. Foto Luiz Chaves / Prefeitura de Caxias do Sul


Os atrativos locais agradam quem busca o turismo cultural, rural, religioso, de aventura e de base comunitária. Os festejos, a gastronomia, a religiosidade, os esportes, a arquitetura, a indústria, a natureza e principalmente as pessoas, são os elementos que fazem da região um destino tão único quanto sua História.
Sua comunidade está engajada na busca pelo desenvolvimento local para alcançar um novo período de prosperidade, desta vez por meio do turismo. Por isso, visitar Galópolis não é entrar em um cenário turístico artificial, mas sim, aprofundar-se nas identidades locais ao ponto de embrenhar-se nas memórias e construir raízes neste território onde tudo é interligado. Conheça o mapa e os atrativos.

Para que essa nova fase de prosperidade se concretize, há diversas iniciativas, tanto de pequenos empreendedores, quanto de grupos organizados. Entre elas, está o Plano Turístico e Territorial de Galópolis, produzido junto com a comunidade por quatro marcas: Somos.RS, Instituto Hércules Galló, Sicredi Pioneira e Sebrae RS. Durante o ano de 2022, foi desenvolvido um trabalho que resultou em mais de 200 páginas. Todos os detalhes estão à disposição neste link.

A equipe que trabalhou na organização do plano segue fazendo parte, mas o protagonismo da sua execução cabe à comunidade, pois, sem ela, tudo isso torna-se apenas um documento que não terá aplicação prática. A criação de uma governança é uma das sugestões, assim como a busca por novos atrativos e a melhoria dos que já existem, o trabalho em roteiros, algumas intervenções no território e a promoção de eventos, entre outras. Inicialmente, o plano sugere a criação de ofertas nas áreas de gastronomia, hospedagem, guias de turismo e atrativos para crianças.

Na ocasião, a prefeitura de Caxias do Sul também apresentou o seu projeto para a concessão do prédio do Círculo Operário e da praça, cuja consulta pública deve ser aberta em junho de 2023. O espírito de união que envolve as marcas, o poder público e a comunidade de Galópolis é o que sustenta a crença de que esse plano sairá do papel e inaugurará uma nova fase na história de Galópolis. Considerando que o plano seja cumprido, a estimativa é atingir um fluxo turístico de 300 mil pessoas até 2027.

 

Fontes

FONTANA, Giovanni Luigi; HERÉDIA, Vania Beatriz Merlotti. Emigração, Industrialização e Cultura do Trabalho: o caso de Galópolis, primeira indústria têxtil da zona de colonização italiana no Rio Grande do Sul. Ricerche Storiche, n. 3, set-dez. 2018. Disponível em: https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/artigo-emigracao-ind-cult-trabalho.pdf. Acesso em 14 jul.2022.

 IPHAN. Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos: sítio RS-127. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?11079. Acesso em 14 jul. 2022.

A relação de lotes-proprietários pode ser sobreposta aos mapas atuais de Caxias do Sul por meio do site: https://colonias.heuser.pro.br/app/mapa/vetorizado/76. Acesso em 14 jul. 2022.

 HERÉDIA, Vania Beatriz Merlotti. Processo de industrialização da Zona Colonial Italiana. 2. Ed., ampl. Caxias do Sul: Educs, 2017. Disponível em: https://www.ucs.br/educs/livro/processo-de-industrializacao-da-zona-colonial-italiana/. Acesso em 14 jul. 2022.

BUENO, Ricardo. Galópolis e os italianos: patrimônio histórico preservado a serviço da cultura. Porto Alegre: Quattro Projetos, 2012. Disponível em: https://issuu.com/077906/docs/miolo_galopolis.

Conforme evidencia o acervo coletado e expostos pelo Projeto Inventário Participativo de Galópolis por meio da exposição “História(s) e Memória(s) do Círculo Operário”, disponível virtualmente pelo link: https://www.projetocccg.com/sobre-n%C3%B3s. Acesso em 14 jul. 2022.

[1] ERLO, Geovana. Museu de Território de Galópolis: estratégia para a preservação do Patrimônio Industrial e Identidade local. Monografia em História. Caxias do Sul: UCS, 2019. Disponível em: https://repositorio.ucs.br/11338/5912. Acesso em 14 jul. 2022.

Texto: Geovana Erlo, 2022 Historiadora graduada pela Universidade de Caxias do Sul, mestranda em Museologia e Patrimônio pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mediadora e educadora para o patrimônio cultural no Museu de Território de Galópolis e Inventário Participativo de Galópolis. Currículo Lattes:  http://lattes.cnpq.br/7499007465789111  E-mail: [email protected] 

Coordenação e edição: Marivania Sartoretto