Sesmarias
Mapa das 5 sesmárias localizadas no território que hoje pertence ao município de Caxias do Sul. As trêa semarias no grande circulo vermelhos foram concedidas e ocupadas inicialmente com pecuária, campos com criação de gado. Fonte do mapa: Livro Caxias do Sul: história e cultura nos distritos p.15 Autoria: Marivania Sartoretto.
O território de Caxias do Sul teve cinco sesmarias
Entre 1760 d.C. e o início da colonização, especialmente a italiana, na década de 1870, Caxias do Sul viveu o que Ribeiro (2014) define como Sistema Agrário Sesmeiro. O território onde hoje fica o município tinha cinco sesmarias: Sertorina, Fazenda Palmyra, Palmeira dos Ilhéus, Fazenda Souza e Fazenda do Raposo. As sesmarias faziam parte de um sistema de distribuição de terras que vigorou no Brasil entre 1534 e 1822. Lotes de terras eram distribuídos a beneficiários em nome do rei de Portugal com o objetivo de cultivar terras virgens.
O sesmeiro recebia as terras e precisava cumprir alguns deveres de cultivo durante um tempo estipulado na Carta de Sesmaria, porém, isso raramente acontecia, inclusive por aqui. No território de Caxias do Sul, foram então beneficiados cinco sesmeiros, os proprietários das áreas citadas acima. Por muito tempo, essa era a divisão que vigorava no território. Somente a partir da chegada dos colonos, elas foram sendo divididas várias vezes e dando origem a muitos outros terrenos.
Começamos a falar delas pelas três que ficavam nos limites dos Campos de Cima da Serra. Em meados do século XVIII, essa região tinha três grandes sesmarias. Juntas, ela ocupavam metade da área atual de Caxias do Sul e também a totalidade do município de São Marcos. Eram elas: Fazenda Palmeira dos Ilhéus, Fazenda Souza e Fazenda do Raposo. Elas pertenciam, originalmente, à Freguesia de Santo Antonio da Patrulha e, tempos depois, foram incorporadas a São Francisco de Paula.
A sesmaria Fazenda Souza, porém, originalmente era chamada de Pouso Alto. Se aplicarmos o seu território ao mapa atual, ela ficaria onde hoje estão os distritos de Vila Seca e Fazenda Souza e parte de Criúva. Para dar uma outra ideia do tamanho, citamos o registro do 6º Encontro de Economia Gaúcha – EEG 2012. Considerando uma légua como equivalente a seis quilômetros e meio, a Fazenda Souza teria uma área de 3.169 hectares. O seu proprietário era Ignacio Souza Corrêa, de São Paulo. Em 1790, ele a vendeu para Ignácio Leite Ribeiro, e o documento da negociação informa que o antigo proprietário vivia lá por cerca de 30 anos, o que nos leva a 1760, início das concessões de sesmarias por aqui.
Ali ao lado, ficava a sesmaria Fazenda do Raposo. Um dos primeiros proprietários dessa área de terras com aproximadamente 13 mil hectares foi o sorocabano Antônio Francisco Lisboa, que, em 1766, a vendeu para Francisco José de Oliveira Raposo. Na sequência, a partir de posses legais e ilegais, heranças e partilhas, a fazenda teve uma série de proprietários diferentes. Nós detalhamos mais a sua história neste texto.
Era por esses lados que ficava também a sesmaria Palmeira dos Ilhéus (também chamada de Fazenda dos Ilhéus). O proprietário dela era o açoriano João Francisco Pena, que a vendeu para o casal português André Nunes Porto e Angélica de Andrade, em 1772. No livro “Raízes de São Marcos e Criúva” (2005), Possamai explica que essa fazenda era chamada de Ilhéus porque os seus antigos proprietários eram originários das antigas Ilhas do Açores. Conforme os documentos da época, a área de terras tinhas duas léguas e meia de comprimento e duas de largura.
Do outro lado do território de Caxias do Sul, ficavam as outras duas sesmarias. A de Feijó Junior se chamava Sertorina e foi um presente. Em 1870, a pedido do intendente do Estado, o português Feijó Junior organizou uma missão de reconhecimento das terras que eram conhecidas como fundos de Nova Palmira. Por esse trabalho, Feijó Junior recebeu como pagamento uma sesmaria que media três léguas e foi chamada de Sertorina. Para fins de localização: a região de Forqueta fica dentro do território desta sesmaria. Feijó Junior foi uma pessoa tão relevante, que Caxias do Sul tem uma rua com o nome dele e comunidades dessa área também fazem relação, como Conceição da Linha Feijó e São Martinho da Linha Feijó, entre outras.
Ali perto, onde hoje fica o distrito de Vila Cristina, estava a quinta sesmaria: Fazenda Palmyra. Essa era uma área de terras devolutas, e a concessão da sesmaria aconteceu em 1818, para o mineiro e descendente de portugueses Wenceslau de Oliveira Bello. Nessa época, a Fazenda Palmyra pertencia à Freguesia de Bom Jesus do Triunfo, atual município de Triunfo.
A Lei Provincial nº 142, de 18 de julho de 1848, desmembrou a Picada Feliz da Vila de Bom Jesus do Triunfo para formar a Freguesia de São José do Hortêncio, que já pertencia à Vila de São Leopoldo. E a Lei nº 870, de 15 de abril de 1873, promoveu São Sebastião do Cay a Freguesia, englobando a Picada Feliz, o Kionenthal (atual Vale Real), a Fazenda Palmyra e a Colônia Nova Petrópolis. Após o falecimento de Wenceslau, ocorrido em 22 de julho de 1852, no Rio de Janeiro, seu filho, o coronel André Alves Leite de Oliveira Bello,assumiu a carta da sesmaria. Ele morava em Porto Alegre e rapidamente iniciou a venda das terras.
A partir das vendas de áreas de terras que aconteceram em todas as sesmarias, a divisão do território foi mudando e o sistema agrário sesmeiro ficou para trás, mas não sem deixar um marco na história do nosso município.
Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.
Produção, organização e Curadoria: Marivania L. Sartoretto
Texto: Paula Valduga
Fotos: Marivania L. Sartoretto
Ano: 2025
Para citar:
SARTORETTO, Marivania L.; VALDUGA, Paula. O território de Caxias do Sul teve cinco sesmarias. Caxias do Sul: Patrimônio, Marcos e Lendas / Lei Paulo Gustavo, 2025. Disponível em: https://www.guiadecaxiasdosul.com/turismo/patrimonios/patrimonios-e-lendas
Referências
ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul - 1864 - 1962. Caxias do Sul: Editora São Miguel, 1963.
ALVES, Luis Antônio. Fazenda Souza 250 anos. 2010. Disponível em https://fuj.com.br/?a=postagem&p=fazenda_souza_250_anos_193 17 Acesso em: 10 jan. 2025.
DALL‘ALBA, João L.; TOMIELLO, Antônio; RECH, Juarez E.; SUSIN, Valter A. História do povo de Ana Rech. Volume II. Caxias do Sul, RS: EDUCS, 1997. 464 p.
GASPERIN, Alice. Farroupilha: ex-colônia Particular Sertorina. Caxias do Sul: Ed. do autor, 1989. 360p.: il. (Imigração italiana)
POSSAMAI, O. J., & RIZZON, L. A. História de São Marcos. São Marcos: Edição dos Autores,1987.
RIBEIRO, Claudia. Evolução e Diferenciação de Sistemas Agrários: o caso do distrito de Vila Seca - Caxias do Sul/ RS. Claudia Ribeiro e Lovois de Andrade Miguel. IX Congresso da Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção. 2012.
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