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Fazenda Casa Branca

Fazenda Casa Branca se mistura à história de Criúva

Casa Branca, em Criúva, está entre as edificações mais antigas que ainda estão em pé  

 

Uma propriedade em Criúva guarda uma parte da história de Caxias do Sul. A Fazenda Casa Branca tem uma edificação que faz parte do Inventário do Patrimônio Histórico Rural do município e deve estar entre as mais antigas que ainda estão em pé. Itamira Silveira Alves dos Passos, uma senhora nascida em 1930, viveu nesta residência entre os anos de 1970 e 1987 e conversou conosco durante a produção do livro “Caxias do Sul: história e cultura nos distritos”.

Ela conta que a propriedade era da família Ratz e que a casa foi construída por escravos. “O barro usado para fazer a casa foi retirado do açude que tinha na frente”, diz. Essa situação se aplicou também aos muros de taipa. Essa informação ela recebeu de Deoclécio Lessa, um professor que também viveu na casa, porque sua esposa, Noema Silveira Lessa, se criou na propriedade. “O pai dela era o capataz, os Ratz eram os patrões dele”, acrescenta Itamira.

Outra família que ocupou a propriedade foi a de França Guerreiro. Ele arrendou a propriedade dos Ratz e tinha o mesmo sobrenome dos proprietários de uma charqueada em Caxias do Sul. Itamira conta que ele criava gado e tinha uma série de empregados. Ela não sabe se a história é realmente essa, mas muito se falou que foi ele que pintou a casa de branco, o que acabou tornando-a conhecida pelo nome de Casa Branca. Quanto ao tempo em que a construção existe, não sabe precisar, mas tem certeza que é muito antiga. “Desde que eu me conheço por gente, existe aquela casa”, diz ela. Em 2024, quando conversou conosco Itamira estava com 94 anos.

Na época em que viveu lá, a casa já tinha algumas partes danificadas, mas ela lembra bem das paredes muito largas e do telhado de tabuinhas. No início da história da edificação, era só pedra e barro, os tijolos foram colocados depois, em reformas que foram necessárias. As janelas, conforme a antiga moradora, sempre foram de madeira. Uma das curiosidades que ela conta eram dois buracos que ficavam em uma parede virada para a frente da casa: “Na época das revoluções, eles colocavam o olho no buraco de cima, e a espingarda, no de baixo”.

Essa casa foi citada, também, em uma reportagem do Jornal Pioneiro assinada pelo arquiteto e professor Paulo Bertussi. Eles escreve que "o primitivismo da alvenaria de pedra lascada contrasta com a pretensão das três aberturas frontaisencimadas por arcos plenos. A dificuldade na obtençãode dados históricos sobre estas obras é uma característica das regiões de baixa produtividade, cuja cultura, em conseqüência, sempre foi menos das letras emais oral, por isso ofuscada e distorcida pelo passar dotempo. Portanto, é difícil estabelecer-se em que época foram construídas, quais reformas ou adaptações sofreram. Se examinarmos, por exemplo, a maneira como os materiais foram usados, veremos uma clara semelhança com as antigas construções ainda existentesna Colônia do Sacramento, origem primeira do povoamento português na América Meridional, que datade 1680 a 1777”.

Atualemte a é propriedade particular e destina a pecuária.

Curiosidade

Segundo o pesquisador Luiz Antônio Alves, em seu trabalho de genealogia, Guilmar Olinda do Amaral, nascida em 1864, era filha de Felisberto Soares de Oliveira e Victalina Pacheco da Silva, proprietários das fazendas do Faxinal (região de Canela), Fazenda do Raposo e da Colônia Victalina (abrangendo áreas das atuais Vila Oliva e Santa Lúcia do Piaí).

Guilmar casou-se em 1884, na cidade de São Francisco de Paula, com João José Hatz, imigrante alemão nascido em 1855. João trabalhava com medição de terras e, durante suas atividades, foi responsável por medir a fazenda do Faxinal de  propriedades de Felisberto Soares de Oliveira. Foi nesse contexto que conheceu Guilmar, com quem se casou.

Ainda conforme Alves, Hatz em meados de 1880 ele foi  proprietário de terras na região da Casa Branca, em Criúva, consolidando sua presença e influência local. O casal teve sete filhos, entre eles a professora Ana Maria de Soares Hatz, que se casou com Eusébio Beltrão de Queiroz em 10 de junho de 1925, em Caxias do Sul.

Ana Maria, conhecida como Dona Mariezinha de Queiroz, iniciou sua carreira docente em 1923, em São Francisco de Paula, sendo transferida para Caxias do Sul no ano seguinte. Casou-se em 1925 com Tomás Beltrão de Queiroz e destacou-se pela forte atuação na educação. Lutou pela inclusão da merenda escolar, distribuição de uniformes e calçados, criação de ginásios noturnos e pela ampliação do acesso ao ensino. Foi patrona da cadeira nº 7 da Academia Caxiense de Letras e deu nome a uma escola em reconhecimento ao seu legado educacional e social.

José Beltrão de Queiroz, segundo Alves, mudou-se para Caxias do Sul em 1924. Trabalhou no Banco Nacional do Comércio e no Banco Popular, e teve papel relevante na vida cívica do município. Foi presidente do Tiro de Guerra, promovido a major em 1940, fundador do Abrigo de Menores São José e membro da Cruz Vermelha. Em 1952, ajudou na criação do Lar da Criança, voltado ao acolhimento de crianças em situação de vulnerabilidade. Em sua homenagem, a região onde se localizava o lar recebeu o nome de bairro José Beltrão de Queiroz, eternizando sua contribuição à cidade

 

Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania L. Sartoretto

Texto: Paula Valduga

Fotos: Marivania L. Sartoretto

Ano: 2025

Para citar

SARTORETTO, Marivania L.; VALDUGA, Paula.Casa Branca, em Criúva, está entre as edificações mais antigas que ainda estão em pé. Caxias do Sul: Patrimônio, Marcos e Lendas / Lei Paulo Gustavo, 2025. Disponível em: 

Referências

Depoimento de Itamira Silveira Alves dos Passos

ALVES, Luis Antônio. Maragatos em Caxias do Sul.Caxias do Sul, RS: Evangraf, 2015. 120 p. 

BERTUSSI, Paulo.Temporal na memória. Caxias do Sul, Jornal Pioneiro, 

Casa Branca. Caxias do Sul, São Francisco, Criúva. Projeto Victur Urbal. Inventário do Patrimônio Histórico Rural do Município de Caxias do Sul, referente ao Objeto nº 49.1. Ano 2007