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Casa de pau a pique

Conheça a história da casa de pau a pique que segue preservada em Criúva

Casa de pau a pique é uma relíquia preservada em Criúva

Em meio aos campos e às histórias de Criúva, há uma verdadeira relíquia preservada por dois irmãos. José Volnei Castilhos dos Reis e Luiz Ronei Castilhos dos Reis moram em uma casa de pau a pique que foi erguida no ano de 1876. Esse tipo de construção baseia-se no uso de materiais naturais e locais, como madeira, barro, pedra e palha, o que se vê com clareza nessa edificação. Conhecer a casa e sentar com eles para ouvir histórias é uma verdadeira volta ao passado.

Os irmãos contam que o proprietário desta casa era Hilário Ferreira de Castilhos, marido de Carlota Ferreira dos Reis, a avó deles. Hilário faleceu cedo, em 1905. Carlota então ficou viúva e casou-se novamente, desta vez com Felisberto Castilhos dos Reis Sobrinho. Dessa união, nasceram oito filhos, entre eles, o pai de Volnei e Ronei. Por toda a vida, portanto, a família deles viveu nessa casa, que tem características de outros tempos. Eles têm a data da construção marcada na memória porque, por muito tempo, ela esteve estampada na casa. “Hoje, não tem mais, já apagou. Mas, em 1984, o Honeyde Bertussi fez uma foto da casa para usar na capa de um disco e, naquela ocasião, o registro ainda existia, então eu lembro muito bem”, conta Ronei.

Bem-humorados, eles são os responsáveis por manter essa construção ocupada e cuidada, e sabemos que usar é uma das melhores formas de preservar. Como estão a vida toda por ali, eles acumulam memórias que ajudam a contar a história da edificação. E adoram contar: “No tempo do nosso avô, essa parte de madeira não aparecia, porque o barro era mais fechado, mais novo. Era um barro amarelo, eles misturavam estrume de vaca na hora de produzir. Faziam misturas e passavam sempre no começo do inverno”.

Com varanda  atrás, construída com outro material, sem barro, a casa foi testemunhando a vida na propriedade. Os irmãos relatam que havia um tronco para amarrar escravos que fugiam e uma pedra usada para as mulheres subirem nos cavalos. As pedras, aliás, são uma das marcas da casa. “Tinha muita madeira na época que a casa foi feita, mas quem vivia por aqui não sabia trabalhar com esse material, então fizeram a casa com as pedras, que eram trazidas até aqui puxadas por carros de boi”.

Essas histórias foram contadas a eles pelo pai, que também viveu ali e as ouviu da sua mãe. Porém, eles ressaltam que o pai ficava nesta propriedade apenas no verão. No inverno, ia para um campo em São Marcos para lidar com o cultivo de milho e trigo e cuidar dos porcos. E também destacam que foi o pai deles que trocou as telhas originais, de tabuinha, pelas de barro. Com o tempo, a casa foi passando por modificações, é claro, porque as intempéries do clima, o uso e a própria idade da construção vão exigindo transformações. Andando pela edificação, eles vão contando as histórias que fizeram parte de uma vida que ficou no passado: “A comida era toda feita aqui embaixo, era uma cozinha de chão, só tinha fogo de chão, nada de fogão à lenha. Mas tinha forno de fazer pão”.

O forno tem sua história à parte. A irmã deles tinha um carinho especial por esse forno, que a avó havia mandado produzir, e também gostava muito do tanque que existia na parte de baixo. Ela faleceu recentemente e também deixou suas lembranças na relação com a casa. “Minha irmã usava esse forno para fazer rosca de milho. Ela aprendeu a receita com a minha tia e sabia certinho os minutos necessários para ficar pronto. Aí ela tirava e esperava o forno esfriar. Quando estava quase frio, colocava novamente para ficar douradinha”, contam eles, lamentando que, nos dias de hoje, ninguém mais sabe fazer essas roscas por lá.

Eles dois e seus outros seis irmãos (dois falecidos) nasceram nessa propriedade. Alguns saíram para tentar a vida na cidade e voltaram, outros ficaram mais ou menos tempo. Volnei e Ronei vivem ali e contam que a propriedade sempre deu tudo que a família precisava: “Meu pai fez a vida dele aqui e nenhum filho passou fome. Minha avó fez a vida aqui, teve 14 filhos e ninguém passou fome”.

Sobre o futuro ainda é incerto. Eles pensam em sair da propriedade, mas não é tão fácil vender essa área de terras. Por um lado, gostariam de ficar, mas, por outro, enxergam melhores possibilidades de vida em outro lugar e estão com a propriedade à venda. Hoje, vivem da lida do gado e alguns trabalhos de empreiteiro, como produzir cerca de arame, por exemplo. O pai deles nunca viu a energia elétrica e eles hoje vivem com ela e com a água encanada. De estrutura, “não dá pra se queixar”. Porém, o clima castiga no inverno e é um dos motivos que incentivam a saída. “Se nós pudéssemos, nós ficávamos. Mas, como os possíveis compradores sempre acham o preço alto, não sei se não vamos morrer aqui”.

Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania L. Sartoretto

Texto: Paula Valduga

Fotos: Marivania L. Sartoretto

Ano: 2025

Para citar

SARTORETTO, Marivania L.; VALDUGA, Paula. Casa de pau a pique é uma relíquia preservada em Criúva. Caxias do Sul: Patrimônio, Marcos e Lendas / Lei Paulo Gustavo, 2025. Disponível em: https://www.guiadecaxiasdosul.com/turismo/patrimonios/patrimonios-e-lendas/casa-de-pau-a-pique

Referências

Depoimentos de José Volnei Castilhos dos Reis e Luiz Ronei Castilhos dos Reis

Casa de pau a pique: uma construção sustentável e com história. Westwing. Disponível em:https://www.westwing.com.br/guiar/casa-de-pau-a-pique/ Acessado em jun 2025.