Trem
Chegada do trem impulsionou o desenvolvimento de Forqueta e Caxias do Sul
Para ter uma ideia da importância da chegada do trem para o desenvolvimento de Forqueta, basta dizer que as pessoas saíam do centro de Caxias do Sul e iam para lá para embarcar, já que, devido à rota e à geografia, ele chegou antes no distrito. Em 1908, a locomotiva apitou pela primeira vez na Estação Forqueta e deu início a um novo ciclo de crescimento. Surgiram hotéis - um dos emblemáticos foi da Família Milesi, que depois vendeu para os Zambon - e depósitos, já que muitos carregamentos passaram a acontecer ali e não mais em Farroupilha.
Conforme a estrada de ferro ia sendo feita, o trajeto do trem era aumentado. Ele chegou a Farroupilha, na estação de Nova Vicenza, em 1902, e, sim, as pessoas iam de cavalo ou carroça até lá para embarcarem ou despacharem mercadorias. Com a chegada a Forqueta, seis anos depois, ali passou a ser o ponto usado pelos caxienses, uma rotina que durou até 1º de junho de 1910, a emblemática data que marca a chegada do trem ao centro da cidade e finalmente liga Caxias do Sul a Montenegro por trilhos. Dali, os passageiros seguiam até Porto Alegre.
Foto: Domingos Mancuso / Acervo Renan C. Mancuso
Antes de tudo isso, porém, foi necessários que muitas pessoas trabalhassem bastante. A construção da estrada de ferro também deixou marcas na história do distrito, assim como o desenvolvimento marcado pela chegada do transporte. A empresa responsável pela obra era belga e, para trabalhar nela, chegaram a Forqueta muitos moradores novos. Entre eles, havia muitos afrodescendentes. Conforme o escritor Lucas Caregnato registra na obra “A Outra Face: A Presença de Afro-descendentes em Caxias do Sul - 1900 a 1950”, de 2010, a construção da estrada de ferro foi um fator importante e fundamental na vinda deles para Caxias do Sul. A empresa que a construiu foi a companhia belga Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer au Bresil, vencedora da concorrência aberta pelo governo federal para a construção das estradas de ferro gaúchas.
A escritora Loraine Slomp Giron acrescenta que, por conta disso, se formou em Forqueta uma vila com negros. Ela também relata que os primeiros contatos deles com os colonos que vieram da Europa não foram muito amistosos. Um dos motivos para essa relação mais tumultuada está relacionado ao traçado da estrada, que passava por dentro de propriedades de imigrantes, o que obrigava a derrubada de algumas árvores e deixava os colonos insatisfeitos. Situações como essa resultaram em separações também em momentos de lazer, com brancos e negros frequentando lugares separados e jogando em times de bocha e futebol diferentes. Porém, isso não aconteceu necessariamente por conta da cor da pele, mas, sim, por esses impactos que a estrada de ferro causava, o que os imigrantes personificaram nos trabalhadores. Com o tempo, tudo foi se acalmando e a história do próprio Clube União Forquetense deixa isso registrado no seu logo. Leia clicando aqui.
Os impactos, é claro, não ficaram apenas em Forqueta. A estrada de ferro seguiu sendo construída e, em 1910, o trem chegava ao centro de Caxias do Sul, mais especificamente ao território onde hoje é o bairro São Pelegrino. A Estação Férrea é um bem tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE) e, no registro, consta a presença das seguintes edificações: estação de passageiros, plataforma de embarque, prédio dos sanitários, prédio do depósito de cargas, prédio do depósito de locomotivas, caixa de água e casa do administrador.
Trem na estação Férrea. Foto: Domingos Mancuso / Acervo Renan C. Mancuso
A construção da estrada de ferro entre Montenegro e Caxias do Sul foi uma iniciativa do governo estadual, que atuava para impulsionar os negócios e viu em Caxias do Sul um futuro promissor para o desenvolvimento industrial do Rio Grande do Sul. Quando o trem chegou e a estação foi inaugurada, houve uma grande celebração. Naquele mesmo ano, 1910, Caxias foi elevada à categoria de cidade (antes, era uma vila), e o conjunto ferroviário foi implantado muito próximo do então núcleo urbano.
No final da década de 1920, a estação passou por uma ampliação e teve características arquitetônicas alteradas. Os beirais foram substituídos por platibandas e as fachadas mudaram de configuração. Em 1935, houve uma elevação da categoria, que subiu de 1ª Classe para Classe Especial e, dois anos depois, ficou pronto o projeto de aumento do armazém. A estação manteve a sua função original até a década de 1970, quando encerrou as atividades por conta da decadência do transporte ferroviário no Brasil.
O pedido de tombamento aconteceu em 2001, como forma de evitar mais estragos nos prédios que ficaram abandonados por anos. Em 2007, a prefeitura de Caxias do Sul fez obras de revitalização no prédio principal e no depósito de cargas e mudou a Secretaria Municipal da Cultura para lá. Em 2025, toda a área passa por mais uma reforma e ganhou um elemento novo muito importante: uma locomotiva que fez as viagens entre Caxias do Sul e Montenegro. A chegada veículo e a instalação da Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico no complexo são importantes movimentos para que o local se torne um importante atrativo turístico no município.
A estação localizada onde atualmente é bairro Desvio Rizzo. Foto do livro Patrimônio Ferroviário do Rio Grande do Sul, IPHAE, p. 222
É importante destacar, também, que durante os cerca de 60 anos de transporte ferroviário (1910 a meados da década de 1970), foi construída mais uma estação. Em 1938, foi inaugurada a Estação Desvio Rizzo, aberta para atender principalmente o Frigorífico Rizzo, mas disponível também para o embarque de passageiros. Neste ponto de Caxias do Sul, é possível ver alguns trechos dos trilhos, porém, o prédio está abandonado. Ele foi tombado no mesmo pacote de 2007 e, desde 2011, há um termo de compromisso assinado entre a União e o município que objetiva a preservação da linha férrea e do patrimônio ferroviário de Caxias do Sul.
Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.
Produção, organização e Curadoria: Marivania L. Sartoretto
Texto: Paula Valduga
Fotos: Domingos Mancuso/Acervo Renan C. Mancuso, acervo IPHAE
Ano: 2025
Para creditar
SARTORETTO, Marivania L.; VALDUGA, Paula. Chegada do trem impulsionou o desenvolvimento de Forqueta e Caxias do Sul. Patrimônio, Marcos e Lendas / Lei Paulo Gustavo. Caxias do Sul, 2025. Disponível em: https://www.guiadecaxiasdosul.com/empresa/trem-3266
Referências
CAREGNATO, Lucas. A Outra Face: A Presença de Afro-descendentes em Caxias do Sul – 1900 a 1950. Caxias do Sul: Maneco Liv. E Ed, 2010.
GIRON, Loraine Slomp. A moda do Far West.Caxias do Sul, RS, Jornal Folha de Forqueta, ano 01, número 06, outubro de 1996, p 4
V. F. Rio Grande do Sul, Desvio Rizzo. (1938- ). RS/Brasil. Disponível em: Http://www.estacoesferroviarias.com.br/rs linhas de/desvio.htm Acessado em: 19 de abr. 2025.
BEM TOMBADO - Sítio ferroviário de Caxias do Sul. Caxias do Sul. RS. Brasil.(2001-) IPHAE. Disponivel em: http://www.iphae.rs.gov.br/Main.php?do=BensTombadosDetalhesAc&item=14002 Acessado em: 19 abr. 2025