Relato sobre extração de madeira
A extração da madeira impulsionou o desenvolvimento de Vila Oliva

Os pinheirais, um legado dos indígenas, que multiplicaram as araucárias porque se alimentavam dos pinhões, foram fundamentais para o desenvolvimento de Vila Oliva. Na época em que os europeus chegaram, no final do século 19, a madeira era um artigo necessário para a construção das casas, e isso impulsionou a instalação de serrarias e madeireiras naquele território. Na época de ouro da era da madeira, Vila Oliva chegou a ter 17 madeireiras.
Serraria em local e data não identificado. Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami
O trabalho desenvolvido por elas, porém, era muito braçal e difícil. Eram tempos de poucos recursos, e os processos de corte, derrubada e transporte da madeira passavam diretamente pela força dos trabalhadores. Entre eles, é importante destacar, estavam muitos dos homens que, anos antes, trabalhavam nas fazendas e nas sesmarias que eram de propriedade dos portugueses. Ao circular por Vila Oliva e conversar com pessoas idosas, é possível ouvir histórias de um tempo em que o trabalho era difícil e, em diversos casos, terminava em acidentes.
Entre os relatos, está o da Dona Gema Antonia Casagrande. Os seus pais saíram de Monte Bérico na década de 1920 com destino à localidade de Tunas Altas, onde havia uma grande quantidade de pinheiros. Lá, encontraram trabalho na etapa de corte das árvores. Ela lembra que era preciso pegar um serrote em duas pessoas para cortar um pinheiro. “Eles chegavam até a fazer competição. Ficavam dois em cada árvore e quem derrubasse antes, ganhava”, conta ela. Um dos serrotes usados pela família está preservado até hoje por Vilson Casagrande, filho de Dona Gema.
A maior parte dos empreendimentos que atuavam com extração de madeira ficava no interior do território. E como o consumo crescia, devido à chegada dos colonos, as serrarias foram ganhando mais espaço na economia do lugar. Porém, as árvores foram tendo seu número reduzido e chegou um ponto em que as reservas próximas da sede de Caxias do Sul foram ficando pequenas. A alternativa, naquele momento, foi recorrer às florestas que existiam nos Campos de Cima da Serra, para que a atividade seguisse se desenvolvendo bem.
Além do serrote, o machado também fazia parte do processo de derrubada dos pinheiros. Conforme o livro “Araucária”, de Paulo Renato Marques Cancian, há registros de que troncos maciços foram usados em estruturas de habitação que tinham paredes de tábuas abertas a serrote e cobertas com tabuinhas sobrepostas, os chamados “scandoles”. Para erguer as casas, os moradores da época se ajudavam.
Além de ser usada no próprio território, a madeira também era enviada a Porto Alegre e, aí, era preciso contar com a ajuda da natureza. Depois de um difícil trabalho de transporte, em carretas ou puxadas por juntas de bois, as toras de madeira eram colocadas nos rios Caí ou Santa Cruz em forma de balsa para aguardar a chuva e a alta do nível do rio e ela seguir, movida pela correnteza da água, até a Capital. Vila Oliva forneceu madeira para outros lugares do Estado por muito tempo e teve essa atividade no centro do seu desenvolvimento por um bom tempo. As empresas Sociedade Comercial Construtora Ltda e Oliva, Corso & Cia. Ltda fizeram parte desta história e aturam na Zona do Raposo. Para escoar a sua produção, a partir de 1936, a Oliva e Corso usava um caminho que havia sido percorrido por indígenas e pelos tropeiros e ligava o território onde hoje é Vila Oliva à cidade de Gramado passando pela Ponte do Raposo. Dessa forma, não era mais necessário depender do rio. A importância da ponte foi tão grande, que nós produzimos um conteúdo especial. Acesse clicando aqui.
Transporte de madeira, na ponte da estrada entre Vila Oliva e Gramado, caminhão K5 Internacional. Ano 1945. Acervo: Hélio Turell
Tudo isso mostra que a madeira teve um papel marcante na história de Vila Oliva. Com o tempo, no entanto, a intensa extração levou à escassez de árvores, mudando os rumos do setor. Porém, ela não desapareceu, mas foi ressignificada. Hoje, o distrito abriga diversas áreas de reflorestamento e é o que mais se dedica ao cultivo de silvicultura em todo o município de Caxias do Sul.
Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.
Produção, organização e Curadoria: Marivania L. Sartoretto
Texto: Paula Valduga
Fotos: Marivania L. Sartoretto
Ano: 2025
Para citar.
SARTORETTO, Marivania L.; VALDUGA, Paula. A extração da madeira impulsionou o desenvolvimento de Vila Oliva. Projeto Patrimônio, Marcos e Lendas / Lei Paulo Gustavo. Caxias do Sul, 2025. Disponível em: https://www.guiadecaxiasdosul.com/turismo/patrimonios/patrimonios-e-lendas/relato-sobre-extracao-de-madeira
Referências
CANCIAN, Paulo Renato Marques. Araucária : raízes da industrialização / Paulo Renato Marques Cancian. – Caxias do Sul: Educs, 2016.
POZENATO, Jose Clemente, coord. História e cultura de um povo: Santa Lúcia do Piaí. Projeto educação no meio rural. Caxias do Sul: Educs, 1986.
Depoimento de Gema Antonia Casagrande