Se você já tem cadastro
Se você é novo por aqui
Você é
CLIENTE ANUNCIANTE
Incluir, mostrar e destacar a sua empresa, produtos e serviços. Inclui autorização para cadastrar eventos.
PROMOTOR DE EVENTOS
Cadastro para poder incluir eventos na agenda.
Deve ser no nome do promotor responsável pelo evento.

Luíz Bugre

Saiba quem foi Luiz Bugre, um indígena que contribuiu com a colonização de Vila Cristina

Luís Bugre, o indígena que escolheu onde os primeiros italianos se estabeleceram 

Ao se falar sobre a presença indígena no território de Caxias do Sul, é preciso dar um destaque para uma pessoa que deixou sua marca na história do município. Luís Antônio da Silva Lima, conhecido como Luís Bugre, era um indígena que havia sido capturado pelos colonos alemães em 1847, ao ser atingido no joelho durante um assalto nas imediações de onde hoje fica o município de Feliz. Luís era um “bugrinho” de 11 anos de idade que foi levado para casa pelos colonos brancos. Eles trataram das feridas e cuidaram dele, descrito como “um garoto sadio, forte, rosto bronzeado, com manchas escuras".

Em 1849, foi batizado pelo Pe. João Siedlak, na igreja de São José do Hortêncio, sendo chamado de Luís Antônio. Com a convivência, acabou aprendendo a falar alemão e, durante esse tempo em que viveu junto com os colonos, o indígena se relacionava tanto com os habitantes da colônia, quanto com os coroados. Porém, sentindo-se um “filho da floresta", não se submetia à obediência do patrão.

Após guiar um assalto que desencadeou em um sequestro, cuja vítima sobreviveu, decidiu afastar-se e mudou-se com a família para uma parte mais ao norte da Serra. Conforme escreve Soraia Sales Dornelles na dissertação de mestrado “De Coroados a Kaingang: as experiências vividas pelos indígenas no contexto de imigração alemã e italiana no Rio Grande do Sul do século XIX e início do XX, como já era um hábito seu ajudar os alemães que chegavam, acabou recebendo, também, os primeiros italianos que chegaram por aqui: as famílias milanesas Crippa, Sperafico e Radaelli.

Em 20 de maio de 1875, eles estabeleceram-se em um lugar que nomearam como Nova Milano e que foi escolhido por Luís Bugre. A Colônia Caxias nascia com a ajuda de um indígena e em um lugar que era chamado de Campo dos Bugres desde 1864, quando Antônio Machado de Souza realizou a travessia entre Montenegro e os Campos de Cima da Serra e, nesta área, localizou um toldo indígena. A autora acrescenta que, por algum tempo depois da chegada dos italianos, o lugar seguiu sendo chamado de Campo dos Bugres. A referência está no "primeiro plano urbanístico da povoação de Caxias, datado de 6 de dezembro de 1878, cujo título era “Projeto da povoação da Colônia Caxias no Campo dos Bugres””.

Conforme Roberto do Nascimento (2009: 80-85), referenciado por Soraia, este documento pode ser considerado a “certidão de nascimento” da colônia. Esse documento e o fato de Luís Bugre ter prestado serviços de caça para as três famílias e ajudado a curar doenças com ervas medicinais da mata deixam clara a participação indígena no início da história da colônia. A dissertação ainda cita que quando os funcionários do império instalaram a administração colonial, Luís Bugre também registrou-se como colono, tornando-se proprietário do lote número 17, que tinha 148.191m2.

No Mapa Estatístico da Ex-Colônia Caxias, são apresentadas as seguintes informações a seu respeito: "brasileiro; 65 anos; não lê; casado com Sebastiana Maria de 55 anos e seus filhos Maria Luiza (20), Julio (19) e Carlos Antônio

(24); data de chegada em 6 de janeiro de 1876; débito de 147$268.92”. A partir desse momento, Luís Bugre passou a ter muita estima dos colonos italianos, já que prestava serviços e ajudava em momentos de dificuldades. Na dissertação, a autora cita um diálogo que faz parte de um romance de Dalcin Fidelis Barbosa (1975: 19). Reproduzimos a seguir:

“- Por aqui termina a zona colonial alemã – disse Pedro. – Agora é só mato e serra. Foi por aqui que passaram os primeiros imigrantes italianos. Não havia caminho. Foram abrindo picada a facão e trepando a serra a pé, carregando a bagagem às costas.

- Sozinhos – perguntei.

- Não. Eles tinham um bugre, conhecido por Luís Bugre.

- Bugre de verdade?

- Sim, bugre legítimo, mas semicivilizado. Os colonos o pegaram pequeno.”

Há registros das relações de Luís Bugre com os italianos também no trabalho de Pierro Brunello (1994), conforme Soraia. O autor cita relatos de nonna Giulia Pizza, que afirmou que Luís esperava no porto de São Sebastião do Caí e subia a serra com os colonos, abrindo estrada a picão. “O índio lhes fez dormir na sua cabana e foi se estabelecer em uma cavidade formada pelas raízes de uma planta de grande porte, e mais tarde ensinou os recém chegados a como construir um abrigo de ramos de folhas” (1994: 23).93”.

As informações sobre a morte de Luís Bugre são dispersas e indicam que ele teria participado de uma caçada no Rio das Antas e se afogado durante a travessia. Independentemente da forma em que ele morreu, já que um filho desconfiava de que ele havia sido assassinado, o legado que ficou foi a escolha do lugar onde começaria uma colônia que se tornaria um grande orgulho dos descendentes dos imigrantes italianos.

Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania L. Sartoretto

Texto: Paula Valduga

Fotos: Reprodução da capa do livro "Luís Bugre indígena diante dos imigrantes alemães" 

Ano: 2025

Para citar 

SARTORETTO, Marivania L.; VALDUGA, Paula. Luís Bugre, o indígena que escolheu onde os primeiros italianos se estabeleceram. Caxias do Sul: Patrimônio, Marcos e Lendas / Lei Paulo Gustavo, 2025. Disponível em: 

Referências

BARBOSA, Fidelis Dalcin. Prisioneiros dos bugres. Juiz de Fora: Lar Católico, 1966.

DORNELLES, Soraia Sales. De Coroados a Kaingang: as experiências vividas pelos indígenas no contexto de imigração alemã e italiana no Rio Grande do Sul do século XIX e início do XX. UFRGS:Dissertação de mestrado. Porto Alegre: 2011.