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Histórias do passado

As histórias de Alcindo Isoton ilustram o passado de Fazenda Souza

 As histórias de Alcindo Isoton, o Felipão

Sentar ao lado dos pais e avós e ouvir histórias de outros tempos é um ato que carrega uma série de benefícios. Você reforça os vínculos com essas pessoas, aumenta o seu repertório sobre como o mundo já foi e ainda valoriza as facilidades dos dias atuais. Neste texto, vamos publicar alguns relatos que nos foram contados por Alcindo Isoton, um morador de Fazenda Souza que nasceu em 1968 e tem o apelido de Felipão!

Com 10 irmãos, ele viveu em uma família grande, repleta de causos e alegrias. Até hoje, está na propriedade que foi do bisavô (imigrante italiano), passou para o avô, para o pai e pra ele, com vendas e divisões pelo caminho. Quando lembra da infância, diverte-se com situações inusitadas e surpreendentes.

Desde pequeno, Isoton esteve muito perto da lavoura. Com cinco anos, ficava em cima de um burro enquanto sua mãe e seus irmãos lavravam a terra onde cultivavam trigo, milho e aveia. “Eu precisava acordar muito cedo, às 5h, e ajudar a fazer café, porque depois tínhamos que sair pra trabalhar nos burros e nas mulas, lavrando a terra. Minha mãe lavrava tudo com meus irmãos”, conta. Em alguns casos, a lida na agricultura ganhava o importante apoio de uma trilhadeira que passava por vários lugares da comunidade. Isoton lembra disso também. “O dono da trilhadeira ia passando de propriedade em propriedade, em muitos lugares aqui perto”, complementa.

Trilhadeira faz parte patrimônio histórico da propriedade da família Isoton

Além dos grãos, as terras também tinha muita uva plantada, e a fruta segue por lá até os dias atuais. Isoton segue com a atividade da família e, recentemente, refez boa parte dos parreirais. Porém, em uma conversa com ele, não se ouve apenas esses relatos sérios. Com o tempo, ele começa a contar as histórias engraçadas. E uma delas envolve dois animais que, por volta das 11h, “não queriam mais trabalhar”. A primeira delas aconteceu quando ele era pequeno e viu o pai se incomodar, largar o arado e dar uma mordida na orelha de uma mula que não queria mais seguir em frente durante o trabalho para lavrar a terra. “Ela se virava para o lado do caminho da casa e não tinha jeito, só queria ir pra casa”, diz ele.

Quando tinha uns 13 ou 14 anos, presenciou novamente a situação, quando trabalhava ao lado da irmã em uma lavoura de milho. “A gente tava lavrando, deu 11h e o burro não queria dar a volta para seguir em frente, ele só queria ir para casa. A minha irmã tava em cima dele e eu decidi jogar uma pedra pra ele se virar, só que eu acertei nas costas dela e ela caiu no chão. Brigou comigo e o burro continuou teimando que queria ir pra casa”, diverte-se. A sabedoria popular também tem histórias como a de “ensinar a nadar”. Os mais velhos disseram a Isoton que ele só aprenderia a nadar no rio se engolisse  pulmão de um  lambari. Foram ao rio, pescaram um, ele colocou em um copo e engoliu em um gole. “Era muito divertido”, diz, aos risos.

O mundo realmente era outro, é importante pensar nisso ao ler essas histórias. As compreensões eram outras. E a estrutura também. O “chuveiro”, por exemplo, era composto por uma lata de 18 litros furada. Era preciso esquentar a água e jogar ali dentro. “Eu lembro de ter tomado banho assim muitas vezes, precisava ser rápido, porque a água acabava”, detalha. 

A alimentação também era completamente diferente. Matava-se um porco e a carne dele era guardada na banha em uma lata. Durava uns dois meses. Com o animal, também se fazia salame. E o queijo igualmente era produzido em casa. “Quando sobrava carne da janta, nós comíamos no café da manhã”, acrescenta Isoton. 

A infância dele também ficou marcada pelas novenas, que aconteciam à noite, longe de casa. Ele, irmãos e amigos desciam até a parte mais baixa da comunidade, ao lado da mãe, para participar, e ele adorava: “O casarão ficava cheio, muitas famílias iam para a novena e era bom descer a pé de noite” como era muito escuro e não tinha lanterna cada um levava uma grimpa de pinheiro, ascendia a primeira quando estava terminando ascendia a próxima e ia seguindo. Assim eles iluminavam o caminho.  Uma conversa com Isoton passa também pelo nome dele, Alcindo, em homenagem ao nome do proprietário de um restaurante, e pelo apelido, Felipão, que vem do amor do pai pelo Grêmio.

E para fechar esse texto, deixamos uma história que Isoton conta rindo: “O pai foi trabalhar com o trator e estava com dor de dente. Chegou em casa e falou que ia arrancá-lo com o alicate. Eu era pequeno e meu pai mandou buscar o alicate no trator. Eu peguei e ele mandou a minha irmã mais velha arrancar. O pai não aguentava de dor, mas nós achamos que ele estava brincando. Ele mandou a minha irmã arrancar mesmo e ela arrancou. Arrancou a seco. O pai então tomou um gole de cachaça e foi dormir”.


Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania L. Sartoretto

Texto: Paula Valduga

Fotos: Marivania L. Sartoretto

Ano: 2025

Para citar

SARTORETTO, Marivania L.; VALDUGA, Paula. As histórias de Alcindo Isoton, o Felipão. Caxias do Sul: Patrimônio, Marcos e Lendas / Lei Paulo Gustavo, 2025. Disponível em: 

Referências

Depoimento de Alcindo Isoton