Depoimento de Wilma Maria Bertotti
Em 1979, o engenheiro agrônomo José Zugno reuniu nove famílias de agricultores e promoveu a primeira edição, na Rua Hércules Galló, próximo ao estádio do Esporte Clube Juventude. Entre elas, estava a família de Luis Bertotti e Wilma Maria Argenta Bertotti. Ela conta que Zugno foi a Forqueta para dar uma palestra para agricultores e o casal decidiu assistir. “O Zugno estava querendo começar a feira e nós decidimos participar, sem saber se ia dar certo, fomos ver o que ia dar”, conta ela. A família de Wilma é número 01 no cadastro da feira do agricultor de Caxias do Sul.
Deu tão certo, que a Feira do Agricultor não apenas segue ativa em 2025, como está em 34 pontos de Caxias do Sul. “Eu comecei a vender produtos sem programar, eu ia almoçar em pessoas que moravam na cidade, irmão, cunhado, e leva as espigas de milho da propriedade. Aí as pessoas começaram a pedir pra comprar”, conta ela. Aos 92 anos em 2024, Dona Wilma tem claro na memória o que viveu nessa época. Quando entendeu que havia mercado para as espigas na cidade, voltou a Forqueta, passou a colher mais e a organizar a venda. Com uma caminhonete rural, ia para o centro e tinha os endereços onde conseguia comercializar. “Meu irmão e meu marido foram buscar a Rural em Porto Alegre, na casa do meu cunhado. Depois, fomos trocando. Eu comprei quatro carros com o meu dinheiro”, relata.
Esses carros vieram do trabalho dela na agricultura e da aposentadoria, que, também, é decorrente da atuação de uma vida toda. Além das espigas, ela vendia na feira beterraba, cenoura e outros produtos, além do vinho doce. Em muitos casos, era ela mesma quem levava, dirigindo a Rural. “Teve uma ocasião em que os fiscais queriam me prender porque achavam que eu vendia vinho mesmo, mas era vinho doce, era suco. Precisou o Zugno interceder, explicar e dar aos fiscais para experimentarem”, relembra. Ao falar dele, ressalta que estava sempre presente para dar orientações e ensinar aos agricultores, o que resultou no desenvolvimento de uma série de propriedades de Forqueta.
A partir da sua visão para os negócios, ela passou também a organizar excursões para o Paraguai e outros lugares. Convidava companheiros feirantes e outras pessoas que conhecia e organizou as viagens por muitos anos. “Para o Paraguai, eu fui mais de 30 vezes”, contabiliza. Uma mulher disposta a trabalhar e experimentar, Dona Wilma nunca parou de inovar e foi esse exemplo que passou para os seus descendentes: Ivo e Irineu. Eles seguem escrevendo a história da família, participando da feira e sendo pioneiros. Em 2024, a empresa deles inaugurou a primeira cantina colonial de Caxias do Sul. O negócio foi enquadrado na Lei do Vinho Colonial, uma legislação federal que permite ao produtor rural regularizar a sua produção de uma forma mais simplificada.
Esse produto e muitos outros seguem sendo vendidos na Feira do Agricultor, um legado de Zugno que segue muito forte. Para que se tenha uma ideia da dimensão da feira, ela acontece cinco dias por semana, de terça a sábado (com exceção apenas do Natal, do Réveillon e da Sexta-feira Santa), e tem mais de 130 participantes cadastrados. As bancas têm produtores rurais - a maioria dos participantes - e também comerciantes, que não plantam, apenas revendem. Em ambos os casos, a garantia é de produtos frescos, com qualidade e preço justo!
Referências bibliográficas
Depoimento de Wilma Bertotti