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Teatro na 3ª Légua

Teatro na 3ª Légua

Teatro na 3ª Légua

A linda relação da Terceira Légua com o teatro  

A história da Terceira Légua guarda uma relação especial com o teatro, e o ex-seminarista e professor Arnaldo Poletto fez parte dela diretamente. Ele conta que tudo começou com os freis franciscanos, que costumavam fazer a encenação da Sexta-feira Santa na década de 1970. Cerca de 20 anos depois, já na década de 1990, as Irmãs Pastorinhas decidiram retomar essa apresentação.“Quando eu voltei do seminário, a Irmã Flora estava aqui na Terceira. Ela era do coral e decidiu resgatar a encenação”, lembra ele.

Essa irmã foi uma das responsáveis por convidar os moradores da época encenar o Evangelho. Conforme Poletto, a religiosa era detalhista e gostava de produzir peças incrementadas. “Eu comecei a ajudar na organização e contávamos com os grupos de jovens da paróquia. Fomos convidando as pessoas, elas aceitaram e então elaboramos um texto relacionada ao que se passa na Via Sacra”, conta. No começo, era tudo mais improvisado, mas, com o sucesso das primeiras edições, o grupo passou a gravar o som da encenação na rádio dos freis capuchinhos. O som saía da torre da igrejae de caixas de som espalhadas pelo trajeto e em lugares em que aconteciam cenas. Os equipamentos eram obtidos pelo Henio Adamatti, e os ensaios aconteciam à noite, porque durante o dia as pessoas precisavam “tirar uva”.

Segundo conta Poletto, as estações da Via Sacra foram montadas no entorno da igreja, e a encenação contava com cerca de 70 personagens. “Fomos criando os locais, alguns na frente da igreja, outros num canto do seminário, íamos indo até o campo. Os ensaios se estendiam até por volta de meia-noite”, relembra, acrescentando que, quando chovia, era preciso cobrir o cenário. “Eu lembro que preparamos tudo duplo, tínhamos o cenário tanto ao ar livre, quanto dentro do salão paroquial, porque se chovesse no dia, faríamos lá. Era um trabalho doido”, completa.

O dia da apresentação era um acontecimento. A encenação terminava por volta das 17h30min, 18h, e o elenco se reunia para jantar, o que também ocorria ao final de diversos ensaios. “O Valmor Sirtoli levava todo mundo para a casa dele para celebrar e, em determinado momento, nesses jantares, alguém se deu conta que a encenação fazia o público chorar e seria mais legal se apresentássemos algo que fizesse a comunidade se divertir”, relata. Era o momento da primeira virada. Poletto então voltou a percorrer a comunidade para fazer convites. Disse que a ideia era apresentar um roteiro que contava a história de uma família, com os casos e piadas que eram contados na Terceira Légua. Nascia ali o grupo Famiglia Del Talent.

Poletto era o roteirista e o diretor, e a comunidade abraçou a ideia com muita dedicação. Durante o tempo em que o grupo atuou, o teatro acabou aproximando pessoas e fazendo surgir alguns relacionamentos. Alguns deles, mais tarde, resultaram em casamentos entre os integrantes do grupo. “Como falávamos de causos e piadas, a cada ensaio alguém chegava com um novo, até que em algum momento eu precisava falar: agora chega, não vou mais mudar o roteiro”, diverte-se Poletto.

A qualidade do que era feito na Terceira Légua chamou a atenção de outras regiões de Caxias do Sul e do teatreiro João Wianey Tonus, que atuava como diretor cênico do então corso alegórico da Festa da Uva. “O Tonus perguntou se queríamos participar do desfile e nós decidimos ir. Reunimos a turma toda, o Famiglia Del Talent, quem fazia a encenação de Páscoa e mais um pessoal de Galópolis e idealizamos uma apresentação exclusiva para o desfile”, relata. A história contada por eles na avenida começava com os lenhadores, que “desbravavam” o lugar com machado e foice, passava pela capina e pela semeadura e chegava na colheita. Paralelamente, estavam as crianças brincando, o caçador e tudo que integrava a história do início da vida dos imigrantes europeus por aqui. “Eram mais de 80 pessoas e nos destacamos no desfile”.

A prova disso foi a decisão de Tonus de, após o fim da Festa da Uva, seguir trabalhando com o grupo, provocando a segunda virada. Por quatro ou cinco anos, ele esteve ao lado do Famiglia Del Talent, o que resultou na peça italiana Il Maschio, traduzida para o dialeto vêneto e apresentada em mais de 50 lugares, inclusive fora do Rio Grande do Sul. Essa peça fez tanto sucesso, que resultou em um belo livro. “Nós não tínhamos profissionalização, fazíamos do nosso jeito, mas era bom, tanto que chamou a atenção e então ele veio nos ensinar”, reforça Poletto. Um tempo depois, como acontece com todos os ciclos, o teatro foi diminuindo, Tonus saiu e, como diz Poletto, todo mundo precisou cuidar dos seus compromissos. O legado, porém, nunca morre. Assim como o orgulho de quem fez parte dessa história.

ste conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania L. Sartoretto

Texto: Paula Valduga

Fotos: Marivania L. Sartoretto

Ano: 2025

Para citar

SARTORETTO, Marivania L.; VALDUGA, Paula.A linda relação da Terceira Légua com o teatro.  Patrimônio, Marcos e Lendas / Lei Paulo Gustavo. Caxias do Sul, 2025. Disponível em: https://www.guiadecaxiasdosul.com/turismo/patrimonios/patrimonios-e-lendas/presenca-afro-em-vila-oliva

Referências

Depoimentos de Arnaldo Poletto

GIRON, Loraine Slomp. Presença africana na Serra Gaúcha: subsídios. Porto Alegre: Letra e Vida, 2009.

TONUS, João Wianey org. El Màs'cio. Caxias do Sul, RS, EST Edições.

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