
Lugar mal assombrado
Capão do Cipó: o lugar mal-assombrado de Vila Oliva
Uma boa história, em muitos casos, está cercada de mistérios, e esse tipo de relato, que pode ser considerado verídico por alguns e lendário por outros, faz parte da sabedoria popular de um povo ou de um lugar. Em Vila Oliva, há uma dessas histórias. Renan Daneluz, que atua como guia de turismo, costuma contá-la, porque a ouviu de mais uma pessoa. “Pode ser que seja uma lenda, mas eu ouvi esse depoimento de muitos moradores. E quando conto pra alguém, acabo escutando ‘meu pai falava isso’”, relata. Pois bem, segundo muita gente, há em Vila Oliva um lugar que é mal-assombrado.
A história começa por conta de uma emboscada. Diz-se que rapazes portugueses costumavam ir nas tribos para ver as mulheres indígenas sem roupa e, em alguns casos, se aproveitavam delas. E então os homens indígenas armaram um plano para pegá-los. Orientaram as mulheres a darem aguardente para os portugueses, que estavam em 12 ou 13. Mas um deles, porém, ficou desconfiado e decidiu não descer do lombo do cavalo, ficou apenas observando. A festa aconteceu, os portugueses beberam a aguardente e ficam “meio tontos”. Neste momento, segundo conta a história, os indígenas os mataram.
Esse que estava no lombo do cavalo, porém, conseguiu escapar. E, conforme os relatos, era o bisavô de Raul Rodrigues, morador de Vila Seca. Por conta disso, a história é contada naquele distrito também. “Aí, os indígenas pegaram os cavalos, os apetrechos, joias e saíram em direção a Vila Oliva. Perto do Capão Cipó, eles enterraram tudo e, desde então, passaram a acontecer fatos estranhos por lá, o lugar se tornou mal-assombrado”, completa Daneluz. Quem podia, evitava passar ali, porque os acontecimentos foram se espalhando. A história conta que, ao chegar neste lugar, surgiram tropas de gado galopando, muito vento e coisas estranhas que assustavam e derrubavam os cavalos. “Quando eu andava a cavalo à noite, eu ia pelo Napoleão, por uma outra trilha, porque não passávamos por esse lugar”, lembra Daneluz.
Até os dias de hoje, nunca ninguém encontrou o que os indígenas teriam enterrado. Porém, as histórias de assombração seguem se repetindo de geração em geração. “Numa ocasião, havia quatro pessoas em uma caminhonete Chevrolet, duas na carroceria. Um deles estavam com um ponche e, ali no Capão Cipó, uma ponta do ponche passou pelo buraco que serve para sair água da carroceria e enroscou no cardã. A pessoa teve a cabeça decepada”, descreve Daneluz. Além disso, já houve tentativas de plantar verduras e frutas naquela área, mas “nada dá ali”. As moradias em frente onde plantam verduras não conseguem ficar habitadas. Há relatos também de que, do nada, aparece fogo. Por conta de todas essas histórias, o Capão do Cipó segue abandonado e, quem pode, evitar passar por ali. Lenda ou verdade, é uma história que faz parte da memória de Vila Oliva.
Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.
Produção, organização e Curadoria: Marivania L. Sartoretto
Texto: Paula Valduga
Fotos: Marivania L. Sartoretto
Ano: 2025
Referências
Depoimento de Renan Daneluz
Para citar:
SARTORETTO, Marivania L.; VALDUGA, Paula. Capão do Cipó: o lugar mal-assombrado de Vila Oliva. Caxias do Sul: Patrimônio, Marcos e Lendas / Lei Paulo Gustavo, 2025. Disponível em: