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Kerbs

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Os kerbs são uma das contribuições dos alemães em Vila Cristina
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Saiba mais sobre os kerbs, as tradicionais festas alemãs trazidas pelos imigrantes  

As festas são uma característica da comunidade alemã e, entre elas, estão os famosos Kerbs. Essa definição, porém, não se aplica a todo o tipo de celebração germânica. Ela se refere especificamente à inauguração de uma igreja. Conforme nos explicou Lair Carlos Goldbeck, não precisa ser o primeiro templo de uma comunidade, o Kerb também pode ser realizado quando uma nova igreja foi feita.

No entanto, é fundamental reforçar que ele se aplica apenas a esse acontecimento. “A comunidade germânica tem também a Festa da Colheita, que é muito grande e importante e, num comparativo com os italianos, equivale à Ação de Graças”, explica. E como, por aqui, existem alemães que são católicos, nessas comunidades, acontecem ainda festas em honra a santos, o que não se aplica ao mundo luterano. Essa introdução é para deixar claro que os lugares que guardam características alemãs em Caxias do Sul, mais especificamente as localidades do distrito de Vila Cristina, podem ter kerbs, festas da colheita e festas em honra a santos.

Tratando especificamente dos kerbs, é preciso começar ressaltando que eles mudaram muito com o tempo, mas ainda acontecem em alguns lugares com um novo formato. Lair nos explicou que, no passado, eles começavam no domingo pela manhã, com a missa de inauguração de igreja. A banda esperava do lado de fora e acompanhava as pessoas até o salão de baile, onde elas ficavam por um tempo. Depois, acontecia o almoço, em diversas casas de famílias. “Os parentes vinham, juntava muita gente para almoçar, era uma comilança”, conta ele. Na sequência, antes da noite chegar, mais no final da tarde, as pessoas saíam das suas casas e retornavam para o salão, pois o baile mesmo ia começar. Eles dançavam e, quem tinha mais dinheiro para pagar, também jantava por lá. “Eles serviam assado, linguiça, cucas, pão. Era tudo durante o baile, você podia pedir a refeição às 21h, às 23h, no horário que quisesse”, detalha ele.

Bom, essas festas tinham música, dança e comida e se estendiam até praticamente a manhã de segunda, quando as pessoas voltavam pra casa. Na segunda-feira, o segundo dia do kerb, começava tudo de novo. Almoço com parentes chegando e um novo baile à noite. “Uma curiosidade do baile era a caixinha que ficava do lado da banda. Você pedia uma marcha e deixava um dinheiro”, acrescenta Lair. Novamente, esse baile seguia até o amanhecer. Na terça, então, acontecia o encerramento do kerb. Almoço e mais uma baile!

Isso tudo acontecia em comunidades que viviam do trabalho rural. Com o tempo, as pessoas que lá viviam passaram a trabalhar em empresa e, aí, na segunda-feira, não dava mais para ficar em kerb. Foi então que aconteceu uma significativa mudança: a programação do domingo foi antecipada para o sábado e, no sábado seguinte, ou 14 dias depois, acontecia outro baile. “Com o tempo passando, surgiu outra mudança. Foram registrados alguns assaltos em comunidades rurais à noite, então os kerbs passaram a acontecer durante o dia, com almoço e reunião-dançante”, complementa.

Tudo isso é um reflexo de mais de 100 anos de transformações no mundo. Sem dúvidas, é preciso se adaptar. Por conta disso, hoje, as festas que acontecem nas comunidades de Vila Cristina tem inclusive mudanças no cardápio. Lair reforça que, lá no início, só se serviam carnes assadas, de porco e de gado. O churrasco chegou depois e, com o tempo, até a sopa de agnoline foi integrada à gastronomia de algumas celebrações. “Houve uma mescla entre alemães e italianos e as festas foram mudando”, reforça ele.

Boa parte das informações passadas por ele podem ser encontradas também no artigo acadêmico “Lazer e colonização: confluências”, publicado na revista da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e relacionado à cidade de Marechal Cândido Rondon. A autora, Neiva Salete Maccari, escreve: ”eram realizados frequentemente bailes que iniciavam por volta das 19 horas, sem um horário pré-fixado para seu término, pois enquanto houvesse pessoas bailando, o conjunto musical não deixava de’animar’. Esses bailes eram os acontecimentos mais marcantes da comunidade e, geralmente, eram realizados em datas significativas, sendo que essas datas mais significativas estavam ligadas à questão religiosa. Portanto, não surpreende o fato de quem as festas mais esperadas e mais comemoradas fossem o Baile de Natal, da Passagem do Ano, da Páscoa, do Carnaval, da Kerbfest, além dos almoços festivos realizados no espaço da igreja. Todas essas festividades eram sempre antecedidas de atos religiosos.”

Por estarmos tratando de uma mesma cultura, as semelhanças são facilmente identificadas. Nos dias de hoje, as comunidades de Vila Cristina promovem as suas celebrações e, apesar das mudanças, seguem mantendo vivas algumas características que chegaram com os imigrantes.

Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania L. Sartoretto

Texto: Paula Valduga

Fotos: Marivania L. Sartoretto

Ano: 2025

Para citar

SARTORETTO, Marivania L.; VALDUGA, Paula.Saiba mais sobre os kerbs, as tradicionais festas alemãs trazidas pelos imigrantes. Patrimônio, Marcos e Lendas / Lei Paulo Gustavo. Caxias do Sul, 2025. Disponível  em: https://www.guiadecaxiasdosul.com/empresa/kerbs-3297

Referências

Depoimento de Lair Carlos Goldbeck

MACCARI, N. S. Lazer e colonização: confluências. 306. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 35, p. 305-321, 2001. Editora da UFPR